Fugas - restaurantes e bares

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

Há sempre mais uma maneira de cozinhar o bacalhau

Por José Augusto Moreira

Espaço cuidado e bem-posto no coração de Aveiro, centrado nas propostas de receitas com bacalhau. Um restaurante que é também amigo do vinho, com oferta alargada e diversificada e sugestões de acompanhamento (e a copo) para todos os pratos.

É uma história muito antiga, a da ligação entre Aveiro e a pesca do bacalhau. Tão antiga como a chegada dos navegadores portugueses à Índia ou ao Brasil, uma vez que já em 1504 havia registo de colónias de pescadores de Aveiro (e também de Viana) nos bancos da Terra Nova. Estávamos nos alvores do século XVI e foi a partir dessa relação com o comércio do bacalhau que começou a história do desenvolvimento do porto de Aveiro.

Com altos e baixos, temporadas de guerra, interferências políticas e muitos outros episódios de maior ou menor relevo pelo meio, a cidade e o seu porto sempre mantiveram essa ligação estreita com o “fiel amigo”, de tal forma que em nenhuma outra região do país se encontra uma tão rica gastronomia e práticas culinárias a ele associadas. Há mil maneiras de cozinhar o bacalhau, mas seguramente que por aqui encontraremos sempre uma outra.

 É, pois, centrado nas propostas de pratos com bacalhau que se apresenta o restaurante Bacalhau & Afins, um espaço cuidado e bem-posto na zona central da cidade, onde igualmente chama a atenção a abastada e diversificada garrafeira. É claro que a carta também propõe outros peixes e carnes, mas são duas as páginas repletas de sugestões de bacalhau, num total de catorze. Não contando as entradas, onde se alinham também uma canja, pataniscas e carpaccio de bacalhau. 

Começa a lista pela “trilogia de bacalhau abafada”, com os samos, as línguas e o lombo suados em azeite, alho e pimenta, seguindo-se o “Brás de bacalhau e azeitona”, “massada de línguas”, “o nosso bacalhau à Zé do Pipo”, frito, gratinado com maionese, puré de batata e legumes glaceados, “o bacalhau e o manjericão”, “risoto de bacalhau e romã”, “bacalhau e a broa”, frito com uma crosta de broa e cama de migas, “bacalhau com natas”, “o bacalhau e o Alentejo”, confitado em azeite e manjericão, “o bacalhau e a cebola”, frito, com batata laminada e cebolada, “o bacalhau e a alheira”, com crosta de alheira, molho verde e puré de grão, todos com preços entre 12,20€ e 16€.

Em doses para duas pessoas, o“bacalhau à lagareiro” (28,50€), acompanhado com batata a murro, migas e cebola, “o bacalhau e o mar” (38,50€), numa cataplana com mexilhão, gambas e alface do mar, e “cataplana de bacalhau e gambas” (36,50€). 

De registar que para todos os pratos há também uma sugestão específica de vinho: oito tintos, cinco brancos e um rosé, do Dão, Bairrada, Douro, Lisboa e Alentejo e com preços para copo, meio copo ou garrafa. Outro pormenor de cuidado, o facto de logo de início ser servido, de oferta, um espumante de boas-vinhas, neste caso o interessante rosé bairradino das Caves S. Domingos.

Altos e baixos nas quatro entradas que provamos com bacalhau. Primorosa a desconstrução da caldeirada (6,50€), num creme aveludado com espuma, aroma e sabores afinados e apresentação elegante, a mostrar técnica e cozinha evoluída. Igualmente de boa execução a canja (3,50€), mas prejudicada pela fraca qualidade do bacalhau, falho de sal, sabor e textura. 

O mesmo aconteceu com as pataniscas (5,50€), em meia dúzia de exemplares de generosas proporções, fofas, bem executadas e escorridas, mas a falhar igualmente no bacalhau, tanto em qualidade como em quantidade. Alvas lâminas do lombo de boa textura no carpaccio de bacalhau (7,50€), de apresentação cuidada com rúcula, pinhões tostados e um toque adocicado a criar contraste com o salgado e o crocante, mas com o sabor irremediavelmente marcado pelo gelo que ainda mantinham as tiras do bacalhau. 

--%>