Fugas - restaurantes e bares

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Rápido era o comboio, competente é a cozinha de sabores tradicionais

Por José Augusto Moreira

O restaurante é acanhado mas a popularidade bem grande. A culpa é de Rosa Maria, a cozinheira que manda nos fogões há mais de 40 anos e criou habituação à boa comida e uma clientela fiel .

É um caso sério de popularidade e longevidade. É certo que a casa não é grande (cerca de 40 lugares), mas O Rápido está sempre a abarrotar e há dias em que convém não chegar muito tarde, como é o caso das quintas-feiras, com as tripas à moda do Porto, que agora são também cozinhadas às terças e sábados para poder satisfazer toda a clientela.

O restaurante é acanhado, mas é de largo gabarito a sua cozinha de sabores tradicionais. Competente, de mão segura e também muito cuidada nos produtos que utiliza. Ou seja, um caso de popularidade que tem uma explicação bem simples: qualidade! E também a consistência de várias décadas, que criou habituação à boa comida e uma clientela fiel.

O Rápido não era no início o nome do restaurante. Era o comboio especial que a partir de 1980 fazia a ligação entre Lisboa e o Porto em menos de quatro horas. Um luxo para a época, que incluía até ar condicionado e refeições no lugar. Ora, como o restaurante está mesmo ao lado da estação de São Bento, os proprietários de então decidiram associá-lo ao serviço de qualidade do comboio, dando-lhe o mesmo nome.

Por essa altura, já Rosa Maria trabalhava na pequena cozinha do restaurante, ela que ao longo destas décadas tem comandado os fogões com saber e mestria, e é, assim, uma das grandes responsáveis pelo sucesso da casa. O outro é o actual proprietário, o senhor Francisco, que chegou uma década depois dela e continua a não abdicar de escolher o melhor bacalhau seco, o polvo, o peixe da lota, fumeiro e enchidos que selecciona com critério, ou a vitela arouquesa e as carnes de porco frescas.

Como dizia um amigo, tudo o que vem para a mesa sabe e cheira mesmo a comida. Ou seja, aquilo que a nossa memória identifica como sabores genuínos e cozinha de sempre.

Veja-se o “bacalhau à Rápido” (13€), cujo aroma não deixa margem para qualquer dúvida. Lascas a deslizar, fritura escorrida e crocante e uma cebolada com pimento e arrebatador vinagrinho, à moda de Braga. Fritura igualmente irrepreensível (em azeite) das rodelas de batata cortadas à mão.

A mesma sensação de prazer e conforto quando se levam à boca os filetes de polvo (12€) ou de pescada (10€), que acompanham com arroz seco, branco ou de polvo. O arroz branco é daqueles de grão solto e aberto, com sabor à goma e a ressumar a azeite que apetece degustar longamente. Da variedade carolino, claro, pelo que mal se entende que seja outra a que é usada para o arroz de polvo. E a diferença nota-se.

Outro caso sério de sabor é a costela mendinha ou o cabrito assados no forno com batatinhas que, tal como as tripas, têm clientes fiéis nos dias próprios. As tripas (9€), com um “puxado” com a mão da cozinheira, incluem mão de vitela, presunto e enchidos. Uma vez por semana, há também feijoada à transmontana.

As carnes de arouquesa são servidas como “bife de vazia” (20€), marcado na sertã com alho e azeite, com gordura saborosa, macio e suculento; em lombinhos grelhados com molho d’alho ou em generosos costeletões igualmente grelhados.

Distribuídos pelos dias da semana, os pratos do rico receituário tradicional vão do bacalhau à espanhola (que já pouco se vê) ao galo de cabidela, passando pela cabeça de pescada cozida, mão de vitela estufada, cozido à portuguesa ou bacalhau à João do Grão. Também já quase uma raridade — apesar de ser um prato do Porto — é o bacalhau à Gomes de Sá, que é servido às quintas. Provamos em dose dupla (20€), com rigorosa execução da receita e com todos os matadores, mesmo com as especiosas lascas do dito a parecer reclamar um pouco mais de azeite.

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