E nem se pense que é exagero. Basta ver o que aconteceu logo à chegada no “Wine Not?”, o bar que Carlos Pereira explora como montra para os vinhos portugueses na zona mais animada da cidade histórica. Entradas limitadas e um público (maioritariamente feminino) ávido pelas explicações do enólogo. Muitos vindos da Finlândia — o que é comum em Talin —, gente com evidente poder de compra e uma imagem de maravilha de Portugal, dos vinhos e da gastronomia. Lá pelo Báltico, no coração da Estónia, parece haver mesmo uma grande vontade de amar pelos dois.
Portugueses na cozinha
Alexander, o melhor restaurante em lugar de sonho
Foi com rasgados elogios à qualidade dos vinhos e do staff de portugueses que Martin Breuer recebeu os convidados para o jantar no Alexander, o restaurante que nos últimos anos tem sido sucessivamente distinguido com o título de melhor da Estónia. “Trazem a paixão, a dinâmica, o ritmo e o calor que a Estónia não tem”, disse Martin, que é um dos proprietários do Padaste Manor, um luxuoso e exclusivo resort situado na ilha de Muhu, num enquadramento natural intocado e com requintes que remontam ao tempo dos czares.
O outro proprietário é Imre Sooaar, cuja empatia com as coisas de Portugal o levou a sentar-se ao piano e cantar Amar pelos dois, um hino de simpatia que quis transpor também para o ambiente e a denominação do jantar que tinha Diogo Rocha como chef convidado e os vinhos de Carlos Lucas como protagonistas.
Num contexto de fine dinning, uma cozinha que privilegia os produtos naturais e de proximidade, na linha da Nordic Islands Cuisine, o Alexander tem à frente dos fogões o alemão Matthias Diether, um correligionário de Hans Neuner (Ocean, Armação de Pêra), que nos últimos oito anos conquistou outras tantas estrelas Michelin para os vários restaurantes que lidera. Na Estónia, não chegaram ainda as escolhas do mais conhecido guia gastronómico, mas este é, claro, o mais óbvio candidato à famosa distinção.
Interessante anotar é que nas suas ausências, que são naturalmente muitas, é uma jovem portuguesa que assume o comando da cozinha, numa equipa que tem ainda mais uma meia dúzia de outros jovens portugueses, incluindo o serviço de vinhos. Marina Garcia, assim se chama a sous chef, é uma jovem lisboeta, cujo nome convém mesmo fixar. Dividiu o protagonismo com Diogo Rocha, com um prato trabalhado à volta de polvo fumado e outro com tamboril, ambos de fina execução técnica e sofisticada apresentação.
Pedir Touriga e Encruzado
Martin Breuer contou que decidiram contratá-la para a esta temporada (o restaurante fecha de Outubro a Março, pelas exigências do clima) logo no final do estágio do ano passado, tal como aconteceu com Gonçalo Camacho, que se encarrega do serviço de vinhos. Tal como todos os outros jovens que estão no staff do Padast Manor, são formados pela Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, onde os proprietários se deslocam já no início de Outubro com o intuito de contratualizar um novo grupo de estagiários para a próxima temporada. “Além da formação hoteleira, que é da melhor que há no mundo, os jovens portugueses têm hoje também um nível de educação muito elevado”, destaca Martin.