Fugas - Viagens

DR

DR

Continuação: página 2 de 5

Um safari no carrossel das montanhas

A concentração de vida selvagem em Kwandwe está longe de se equiparar à do gigantesco Kruger Park, no Norte do país, ou ao espectáculo impressionante que é a migração de animais selvagens entre Masai-Mara e Serengeti, ou seja, entre Quénia e Tanzânia. O que recomenda, então, um safari neste terreno acidentado, semi-desértico, às portas do Karoo sul-africano? Doc, motorista, guia e natural de Kwandwe, onde sempre residiu, explica que o que esta reserva permite é a observação da vida selvagem sem a confusão dos outros parques naturais, uma vez que "nunca mais do que três jipes se concentram num dado local de observação de um animal".

Numa reserva como esta, perder um animal como uma chita, devorada por leões por aparente stress causado por um magote de turistas num safari, é algo que perturba um guia como Doc. Uma reserva como esta não se pode dar ao luxo de perder alguns dos seus animais mais vistosos, sob pena de a mesma se tornar irrelevante, pois algumas espécies têm vindo a ser reintroduzidas neste cenário árido e montanhoso. Há cerca de um século que uma chita não percorria estas terras de Kwandwe - relatos referem que as duas últimas tinham sido mortas em 1888.

A fazenda das avestruzes

Kwandwe começou por ser a primeira fazenda de avestruzes no mundo, cuja pele na África do Sul tem várias utilidades e um preço elevado, antes de se tornar no que agora é. É deste modo que é identificada a Heatherton Towers, criada pelo colono britânico Arthur Douglass, em 1836. Bem, acrescente-se que Douglass era simplesmente o ministro dos comboios, ou algo que se pareça, da província do Cabo, pelo que alguns dos seus hóspedes nesses anos tumultuosos eram pessoas como Cecil John Rhodes ou Lord Milner. Sobre o primeiro já muito se disse. Sobre o segundo, convém relembrar que foi Milner quem construiu os hediondos campos de concentração destinados aos bóeres.

À semelhança de Milner, fazendeiros e caçadores fizeram, ao longo do século XIX, com a mesma competência e desfaçatez, aquilo a que se propunham: dizimar a fauna. E quase o conseguiram. A arte rupestre deixada pelos San no vale do Great Fish River e diários de alguns caçadores de elefantes comprovam que esta região teve, outrora, uma abundante presença de animais selvagens. Cerca de 150 anos depois, os animais selvagens obtiveram, por fim, a serenidade necessária.

Em todo o caso, Kwandwe oferece aos olhos e às objectivas o que todas as outras reservas mais relevantes também oferecem: a possibilidade de ver os big five no seu habitat. Mas importa dizer que um safari, por mais exclusivo que seja, como este é, não garante a colecção completa dos big five (leão, elefante, leopardo, búfalo e rinoceronte). Há quem venha desde os "States" para os ver e não consiga.

- Temos um postcard, diz, tranquilo, um dos turistas norte-americanos, vestido de caqui, chapéu e pele atrevidamente branca neste calor seco da Primavera.

O blue crane, a garça azul, não tem porte suficiente para figurar entre os cinco possantes animais deste top mais clássico. Todavia, este é o pássaro mais frequente na paisagem sul-africana. E sabem o que quer dizer Kwandwe? Exactamente: o lugar do blue crane. Siza não perde uma oportunidade para sinalizar um blue crane, uma ave com 120 centímetros de altura e a elegância das suas patas compridas. E se, por acaso, não descobrir onde se encontram os knysna turaco ou os shelduck, o melhor é pedir a Siza que volte a indicar onde estão. Siza, em xhosa, significa...?

--%>