Fugas - Viagens

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Um safari no carrossel das montanhas

- Help, diz o ranger, algo indiferente e incrédulo ao saber que o apelido tem tanto de xhosa como de português, muito embora ninguém pense em Siza quando pensa na palavra portuguesa ajudar.

O poder de Noluvo

Kwandwe equilibra-se a uma altura entre os 250 e os 490 metros acima do nível do mar, que é de onde vem esta brisa. A proximidade do oceano, do Índico, pois então, a cem quilómetros, ajuda a explicar esta variedade de vegetação que ladeia os caminhos mais apertados da reserva e que tão imprescindível é a animais como os elefantes, os kudos ou os rinocerontes negros que aqui habitam. Seis destes animais, cujo transporte foi o mais ambicioso e divulgado, vieram de KwaZulu-Natal. Mas todos eles encontraram aqui, num local de pouca densidade selvagem, digamos assim, a gastronomia mais abundante e recomendável.

O mais habitual numa reserva, seja ela privada ou não, é que exista uma insanável fricção entre a preservação da vida animal e a presença humana. John Reader, no seu célebre África, Biografia de um Continente, utilizava uma imagem que retrata bem uma evolução favorável à presença humana em detrimento da vida selvagem. Em tempos, os humanos eram ilhas rodeadas de elefantes, ao passo que as ilhas, hoje, são agora os elefantes, como se depreende, por exemplo, do parque de Addo.

Numa reserva como Kwandwe procura-se eliminar essa fricção. As reservas e a oferta hoteleira associada criam emprego, sedimentam populações, pelo menos aquelas que resistem ao apelo da mudança para uma township às portas da Cidade do Cabo, Pretória, ou mais frequentemente Joanesburgo, preservam a vida animal, blá, blá.

É óbvio que não está ao alcance de qualquer um adquirir 22 mil hectares de terra, com esta brisa do Índico a correr por rios, lagos e montanhas. É um luxo só possível em alguns, poucos, locais do planeta. Mas não existem alternativas viáveis numa região como o Cabo oriental, com a mais elevada taxa de desemprego nacional. Donde, Kwandwe acaba por ser uma fonte de emprego e de receita para quem vive na cidade mais próxima, Grahamstown, ou nas duas pequenas aldeias da reserva.

Siza mora com a família nesta aldeia, a maior das duas, habitada por pessoas que ainda vivem como ilhas, rodeadas de savana, de terra semi-árida, rios com hipopótamos e duas dezenas de elefantes. Ao contrário do que teria sido prática corrente ainda há alguns anos - e convém não esquecer que o apartheid é uma memória ainda a fumegar -, a população não foi deslocada para qualquer outro local, como numa cidade se deslocam aqueles que nos importunam ou nos impedem de aceder às paisagens mais luxuosas. "Como gerir dinheiro ou como liderar um grupo foram questões que foram trabalhadas com a comunidade", explica Tim Vuyk, manager da reserva. O que Tim quer dizer é que o projecto privado de exploração destas terras também inclui aquilo que hoje se pode, pomposa, mas acertadamente, traduzir por empoderamento, apesar de empowerment soar melhor...

The Angus Gillis Foundation, assim se chama a organização de caridade que trabalha com 12 aldeias do Cabo oriental, entre as quais esta onde vivem Siza e mais três centenas de pessoas. Foi graças a esta fundação, constituída em 2002 em Grahamstown, que foi estabelecido o fornecimento de electricidade ou de água potável.

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