Nas pistas e para além delas
Esquia-se em grande estilo, quer dizer, em domínios bem equipados, longe das multidões e sobretudo com um enquadramento paisagístico extraordinário. O destaque cabe, para começar, a Sella Nevea, a estância a maior altitude dos Alpes Julianos, já paredes meias com a Eslovénia. O centro, que se resume a meia dúzia de hotéis, fica no planalto aos pés de Mont Canin (2587), colosso vertical ao colo do qual se encontra o único glaciar prevalente na região. Está a recuar a olhos vistos, mas mesmo assim no Inverno oferece um espectáculo prodigioso.
De Sella Nevea parte um teleférico até ao Rifugio C. Gilberti, pitoresca estalagem alpina, erguida a 1850 metros de altitude. Desde Abril passado está conectada por um novo teleférico com Bovec, já do lado esloveno, e há agora um forfait que permite circular livremente entre as pistas dos dois lados da fronteira. Mesmo para quem não esquia, a ascensão aos terminais desses dois teleféricos recomenda-se, quando oferece vistas prodigiosas sobre um majestoso anfiteatro de montanhas com vários picos acima dos 2000 metros. Já para os desportistas, há 30 quilómetros de pistas serpenteando entre espessas manchas de coníferas, mas também uma infinidade de outras possibilidades para quem prefere aventurar-se off piste. O novo teleférico foi contestado, aliás, com toda a razão pelas associações ambientalistas, e é seguro que não fica bem na fotografia. Mesmo assim, não passa de um mal menor numa paisagem que se mantém de uma grandeza e beleza transcendentes.
Outro domínio esquiável, na verdade o mais extenso dos Alpes Julianos, é Di Prampero, com 80 hectares de pistas, a mais longa das quais oferece uma descida contínua de quatro quilómetros. De novo a beleza da moldura é excepcional, aqui sobretudo porque o ponto de partida da descida é Monte Lussari, uma aldeia alcandorada a 1760 metros de altitude. A povoação, que não deve ter mais de duas dezenas de casas, desenvolveu-se em torno de um santuário, no local onde foi reportada uma aparição da Madonna. Hoje é local de romagem estival partilhado por italianos, eslavos e germânicos e no Inverno as suas esplanadas com mesas corridas de madeira funcionam como espaço de confraternização internacional (bem regada) para as várias tribos dos desportos de neve. Apesar do assédio turístico, Monte Lussari, com a sua elegante torre de igreja e casario singelo, sitiada de montanhas nevadas por todos os lados, persiste de uma formosura intemporal, do mesmo estofo que se fazem os postais de Natal.
Menos turísticas são seguramente as estâncias de neve da Cárnia, caso por excelência de Forni de Sopra, no vale de Tagliamento, mais frequentada por turmas das escolas da província, que aqui vêm ensinar aos miúdos o bê-a-bá do esqui. A pista de Valmost-Crusicales, situada a noroeste da cidade, tem uma rede de telecadeiras que atinge vários patamares de altitude e de dificuldade. Mas o seu principal atractivo é funcionar como balcão panorâmico, proporcionando vistas esplêndidas sobre a cadeia de montanhas a sul, que já se encontram integradas no Parque Natural das Dolomitas Friulianas. No vale de permeio, seguindo o curso do rio Tagliamento, há 10 quilómetros de pistas de esqui de fundo, que também servem de ponto de partida para os mais experimentados se embrenharem nas florestas e nos trilhos do parque natural.