Montanhas equipadas para a prática de desportos de neve, mas não reduzidas ao circo desses desportos. Montanhas com mais para ver que a dança dos teleféricos, onde o para além do esqui não se limita a circuitos de lojas de luxo e restaurantes medalhados. Onde, para resumir tudo, a prática de desportos de neve rivaliza com a fruição da natureza, permitindo inclusive aos acompanhantes dos esquiadores trazerem melhores recordações de viagem do que eles das suas acrobacias. Os Alpes terão vários recantos que andam lá perto, mas as Dolomitas Orientais são um espécie de jackpot nesse tabuleiro de excepções. São certamente um destino mais remoto, económico e menos concorrido que a maior parte das estâncias alpinas.
O magnete principal é, em qualquer caso, a beleza excepcional destas montanhas situadas no extremo nordeste de Itália, especialmente encantadoras quando cobertas de vários centímetros de neve. Nelas se concentram algumas das paredes calcárias mais altas e dramáticas do planeta, boa parte das quais se elevam a mais de 1500 metros de altitude. Lá em cima dominam os tons rosa matinais, que depois inflectem para o laranja-amarelado, contracenando com o verde profundo das colinas cobertas de bosques. Mais abaixo há penhascos e ravinas, lagos e vales sulcados por rios, emoldurados por aldeias, prados e parcelas agrícolas.
Este talhão de paraíso montanhoso ocupa o norte da região italiana Friuli Venezia Giulia, que faz fronteira com a Caríntia (Áustria) e a Eslovénia. É parte da cordilheira das Dolomitas, secção sudeste dos Alpes caracterizada pela extraordinária diversidade de calcários, onde sobressai o mineral de carbonato de cálcio e magnésio conhecido justamente por dolomite. Ora as rochas dolomíticas, de que estas montanhas são o paradigma, são rochas solúveis e como tal especialmente permeáveis aos fenómenos cársticos, que consistem na dissolução química das rochas. A carstifi cação é responsável pelas formas esculturais e coloridas que as rochas corroídas vão ganhando, bem como pela formação de cavernas, dolinas, lapiás e todo o sortido geológico pertencente à família dos relevos cársticos.
A riqueza mineral é naturalmente uma das razões aduzidas na classificação das Dolomitas como património da UNESCO, em 2009. Essa classificação é, no entanto, bastante parcial (141 mil hectares) e centrada na província de Belluno, só integrando um talhão relativamente pequeno da região friulana. Esta subdivide-se, por outro lado, numa zona alpina, que é mais alta e setentrional, incluindo o Monte Canin, que se eleva a 2587 metros, e uma zona préalpina, mais baixa e meridional, formada por uma longa cadeia de montanhas que se escalona em anfiteatro na direcção esteoeste, até ao Adriático. O mesmo território é ainda dividido pelo rio Fella na metade oriental dos Alpes Julianos, designação que reenvia para o explorador Juluis Kugy, e na metade ocidental, a que os romanos chamaram Cárnia. Para além da parcela distinguida pela UNESCO, uma parte substancial da Cárnia e dos Alpes Julianos cai na categoria de parque nacional, suplementado por toda uma rede de parques regionais. Daí resulta que quase tudo (à excepção dos vales urbanizados e agrícolas) nas Dolomitas Orientais é paisagem protegida.