Fugas - Viagens

Luís Maio

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NEVE: Os encantos remotos das Dolomitas Orientais

Dos carros de neve aos cães de trenó

As pistas nevadas podem ser soberbas, mas estão longe de ser os únicos atractivos locais. Há muito mais para ver no cenário na maior parte montanhoso das Dolomitas Orientais que, por isso mesmo, requerem outro tipo de esforço físico para serem devidamente exploradas. Uma dessas modalidades é o trekking, de preferência conjugado com o uso de raquetes na metade do ano em que a neve cobre quase tudo. É seguramente a melhor maneira de explorar os lagos que se sucedem a pouca distância, na ponta nordeste da raia fronteiriça junto à Eslovénia. São tão bonitos quanto gelados, destacandose com frequência nos boletins meteorológicos como os pontos mais frios de Itália (-15 ºC, quando lá estivemos, numa manhã de meados de Janeiro).

Atinge-se os lagos de Fusine através de um ramal da estrada que liga a cidade fronteiriça de Tarvisio à Eslovénia (SS 54). O asfalto acaba num parque de estacionamento junto do lago inferior, que está situado a 724 metros de altitude, tem uma forma sinuosa e ocupa 13,5 hectares. A única maneira de chegar ao lago superior, que é um pouco mais pequeno (9 hectares) e se situa a uma altitude de mais cinco metros, é mesmo a pé. O trilho, que é circular, sobe e desce por pequenas colinas cobertas de abetos, aveleiras, castanheiros e faias, que ganham formas escultóricas (no género fantasmagórico) quando cobertos de neve. É um passeio fabuloso, muito pouco concorrido, não admirando, por isso, que nos cruzemos a todo o instante com pegadas de lebres, veados, raposas e ursos, por vezes até os próprios animais.

Quando finalmente se atinge o lago superior é o deslumbramento, sobretudo se o lago estiver congelado, funcionando como luminoso espelho do anfiteatro de montanhas circundante, coroado pelo Monte Mangart (2643 metros), já do lado esloveno. Uma dezena de quilómetros mais a sul fica Predil, outro lago de origem glaciar, que é como quem diz, formado pela coroa de morena depositada ao fundo do vale. Situa-se a 969 metros de altitude, tem um quilómetro de extensão, sendo maior e porventura menos elegante que os lagos de Fusine. Mas a envolvente, a meio caminho entre Mont Mangart e Mont Canin, torna-o igualmente fotogénico.

As silhuetas verticais e dentadas dos Alpes Julianos não são destituídas de semelhanças com as Rocky Mountains canadianas, ar de família que se acentua na pista de trenós puxados por cães (sleddogs), que se encontra na planície de Fusine. Chama-se Escola Internacional de Mushing e a maior parte da sua clientela são principiantes que vêm para guiar, ou melhor, serem guiados por cães da raça husky. Os trenós, puxados por equipas de quatro cães, conseguem atingir velocidades impressionantes e dar aos condutores ocasionais um lamiré do que será empregá-los como meios de transporte através de desertos gelados.

Outro local excelente para caminhadas com raquetes é o Parque Natural das Dolomitas Friulianas, de que a supracitada Forni de Sopra é a principal entrada superior. Aqui se encontra a quintessência da paisagem préalpina com densos bosques de coníferas, adaptadas aos acidentes de um relevo dominado por formações cársticas, incluindo lagos, cataratas e gargantas. O trilho mais popular arranca das imediações da pista do esqui de fundo da cidade e escala o barranco sulcado entre Monte Cridola (2453) e Cima Urtisiel (2264). Em meio dia atinge-se o belíssimo Rifugio Giaf (só aberto na metade mais quente do ano), mas com mais tempo pode-se cruzar as montanhas pelo alto de Forcella Scodavacca e daí progredir até às planícies friulianos, que se desenham a sul.

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