Fugas - Viagens

Luís Maio

NEVE Esqui à moda dos Pirenéus

Por Luis Maio

Esqui em campo aberto, piscinas de águas sulfurosas e um gigantesco forno solar. Isto são os Pirenéus Catalães a combater o envelhecimento e o aquecimento climático. A Fugas andou por lá e usa três adjectivos para descrever a estância: familiar, nostálgica e ensolarada

Font-Romeu é a estância de neve mais antiga dos Pirenéus (desde 1903), etiqueta que ostenta como marca de prestígio e postal saudosista. O reverso da medalha é uma certa queda para a nostalgia dos bons velhos tempos, mais recentemente contrariada pela renovação e ampliação do domínio de neve, que actualmente ronda os 60 quilómetros esquiáveis. Outro letreiro da estância anuncia 300 dias de sol, mas a completar queda de neve nocturna no Inverno - que é cada dia mais incerta, nesta era de mudanças climáticas, implicando o recurso a 300 canhões de neve para garantir o funcionamento das pistas.

As paisagens da montanha são bonitas, sobretudo quando os picos se encontram cobertos de branco. Mas não rivalizam com o dramatismo dos Alpes, nem nada que se pareça. Trata-se, na verdade, de um território bastante humanizado, só mais recentemente desperto para as exigências do desenvolvimento sustentável. De resto, o que Font-Romeu e vizinhanças têm de mais atraente, ou pelo menos de mais singular, encontra-se fora das pistas. São piscinas naturais de águas sulfurosas ao ar livre, povoações e igrejas de recheio precioso, perdidas em lugarejos mais ou menos remotos, mais um forno solar, que tem tanto de perturbador quanto de prodígio científico.

Font-Romeu é uma estância já histórica, mas como núcleo urbano é relativamente recente. Bem mais antiga é Odeillo, aldeia situada no coração da meseta da Cerdagne, nos Pirenéus Orientais. Viveu do cultivo de cereais e batatas, da criação de vacas e ovelhas, até ao lançamento do Comboio Amarelo, que passou a ligá-la a Perpignan e ao resto do mundo. O comboio que hoje persiste mais como recreio do que meio de transporte de passageiros fez Odeillo evoluir da Idade Média para a Idade do Turismo, quase do dia para a noite. Favoreceu, em particular, a construção de chalets acima da aldeia (1902), a que seguiu um monumental palácio no alto da colina, com seis pisos e 150 camas. Abriu como Grand Hotel em 1918 e atingiu o apogeu na década seguinte, quando acolheu príncipes e um vistoso ramalhete de figuras internacionais.

Depois da Segunda Grande Guerra, no entanto, foi perdendo carisma, até que a propriedade foi vendida e o hotel convertido em apartamentos nos anos 50. Font-Romeu não foi riscada do mapa, mas deixou de ser um lugar de recreio das elites endinheiradas para se converter numa estância de esqui "democrática". A chegada de clientela mais numerosa e menos abonada arrastou uma vaga de construção menos qualificada, que ainda hoje domina a paisagem urbana da estância. Não há hotéis com mais de três estrelas e a rua do comércio é mais saldos que lojas de marca.

A edilidade quer inverter esta tendência e só no ano passado gastou 30 milhões de euros, distribuídos entre a modernização do domínio de esqui e o lançamento de novos equipamentos après-ski. Há planos para a construção de um hotel de luxo nas dependências do antigo Grand Hotel e mais genericamente para subir a fasquia em termos de oferta hoteleira, ao mesmo tempo que se pretende implementar políticas de respeito ambiental. Já se fala num novo modelo económico centrado no ecoturismo.

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