Fugas - Viagens

Bode Museum

Bode Museum Luís Maio

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O santuário das artes de Berlim renovado

De David Chipperfield são os projectos de duas novas infra-estruturas, essenciais para converter a Ilha dos Museus numa atracção do século XXI: um prédio de acesso a todo o complexo, que acolherá também serviços tipo cafés e lojas, e um passeio central a ligar os museus entre si. O edifício de acesso será fronteiro ao Neues Museum e estará na linha de composição do moderno com a arquitectura do passado ensaiada pelo arquitecto inglês na vizinha galeria Am Kupfergraben 10, ou na própria renovação daquele museu. Já o passeio central, também chamado "passeio arqueológico", será subterrâneo e apresentará exposições temáticas, que porão em equação peças dos vários museus. O primeiro acesso ao passeio arqueológico foi construído no Bode Museum, o do Neue Museum também já está pronto, sendo de prever que a obra esteja completa dentro de cinco anos.

O problema do costume é o dinheiro ou a falta dele, sobretudo quando as finanças do estado de Berlim entraram na bancarrota em 2002 e é o estado federal que suporta todos os encargos da renovação da Ilha dos Museus desde então. Do mal o menos, como disse à Fugas Dietrich Wildung, curador do Museu Egípcio (e autor de vários livros Taschen sobre arquitectura no Antigo Egipto): "Quando eu vejo a situação de aflição em que a actual crise financeira colocou os museus privados, em particular os americanos, não posso deixar de me sentir satisfeito, porque pelo menos a Ilha dos Museus tem o financiamento garantido até 2026" (data prevista para a conclusão das obras de renovação dos cinco museus).

Neues Museum volta a abrir portas

O Neues Museum reabre em Outubro próximo, antecedendo as comemorações de duas décadas passadas sobre a queda do Muro de Berlim. É um acontecimento carregado de simbolismo, na verdade a pedra de toque de toda a operação de reabilitação da Ilha dos Museus. Porque a construção do Neues (Novo) Museu foi o passo decisivo para a criação de um "Santuário das artes e das ciências" à beira do rio Spree. Mas também e sobretudo porque este foi o edifício mais seriamente danificado pelos bombardeamentos da II Grande Guerra, o único que nunca reabriu, permanecendo em ruínas desde 1945. Por isso também a sua recuperação, orçada em 233 milhões de euros, se apurou especialmente problemática, morosa e controversa.

O concurso para a reconstrução foi ganho, em 1994, pelo italiano Giorgio Grassi, mas a direcção dos Museus Nacionais de Berlim não concordou, preferindo o projecto mais radical do norte-americano Frank O. Ghery. As coisas não avançaram até um novo concurso ser ganho pelo inglês David Chipperfield, segundo classificado do primeiro concurso. Em discussão estava se deveria produzir-se um duplo do original de August Stuller, adicionar-lhe ou mesmo substituí-lo por um edifício moderno de raiz. Chipperfield foi, por outro lado, desenvolvendo um modelo mais complexo de relação com as ruínas.

Nos lugares em que o edifício estava razoavelmente conservado, optou por devolvê-lo à sua forma original, mas onde só restavam fragmentos resolveu conservá-los assim mesmo, em ruína. Já nos lugares onde o restauro era impossível, construiu de novo, mas respeitando as qualidades espaciais e volumétricas da arquitectura original. Um dos principais atractivos da reabertura do Neues Museum que já teve uma antestreia com 30 mil visitantes, em Abril residirá certamente em descobrir o que é novo e o que é de origem e apreciar a pluralidade de modalidades em que as duas coisas se combinam.

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