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Bode Museum

Bode Museum Luís Maio

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O santuário das artes de Berlim renovado

A monumental escadaria central do edifício, totalmente destruída pelas bombas, recuperou a configuração que Stuller primeiro lhe conferiu. Mas foi reconstruída por Chipperfield numa mistura luminosa de betão e poeira de mármore, que contrasta com o escuro do novo telhado de carvalho. Já dos frescos que antes cobriam as paredes só ficaram os fragmentos que sobreviveram à guerra, deixando o revestimento de tijolo à mostra. Dos dois pátios interiores, o grego ficou vazio e desnudado, à excepção do friso que anuncia a queda de Pompeia, ao passo que o egípcio tem agora uma espécie de terraço, que remete para o famoso mausoléu desenhado por Friedrich Gilly, mestre de Schinkel. As soluções são tantas quanto os casos e a aproximação de Chipperfield assemelha-se mais à de um escultor que à de um arquitecto convencional.

Na sua intervenção sobressai a ideia de conservar os fragmentos de arquitectura remanescentes do Neues como uma espécie de ruína romântica do século XIX. Desta forma, o edifício, ou o que dele resta, torna-se ele próprio um objecto arqueológico. Tem tudo a ver, afinal, com um museu dedicado aos artefactos da Pré-História, dos Primórdios da História e do Antigo Egipto, onde a estrela que mais brilha é o famoso busto de Nefertiti (seja ou não verdadeiro, como agora tanto se discute). Já se sabe que o Passeio Arqueológico passará no novo piso subterrâneo do Pátio Egípcio, onde haverá uma exposição permanente sobre o tema da vida depois da morte, incluindo sarcófagos egípcios e peças dos inícios do cristianismo.

Alte National Galerie e Bode Museum remodelados

A precisar de obras urgentes, a Alte National Galerie foi o primeiro edifício recuperado na Ilha dos Museus. Um belíssimo prédio neoclássico de três pisos, assente num plinto de 12 metros de altura, foi restituído ao seu esplendor original sob a direcção do arquitecto HG Merz. Reaberto em 2001, exibe pintura e escultura desde o século XVIII aos inícios do XX com especial incidência na produção germânica desse período. Está particularmente bem fornecido de obras do génio do romantismo Caspar David Friedrich, um conjunto de 14 quadros onde se destaca o sensacional "O monge e o mar". Também representados com algumas das suas criações mais célebres estão Menzel, o mestre da luz do realismo alemão, e Arnold Bockin, um dos mais destacados expoentes do simbolismo.

Outra operação de renovação já concluída é a do Bode Museum, que reabriu em 2006. Também aqui se tratou de restaurar um edifício majestoso, mas que na sua pompa neobarroca destoa um pouco do postal neoclássico do conjunto e por isso na altura foi muito criticado. Hoje, pelo contrário, é uma das vistas favoritas do ócio berlinense e as esplanadas que lhe servem de miradouro do outro lado do rio são muito concorridas, sobretudo no Verão. São mais populares certamente que os salões, quando as colecções de Arte Bizantina, Numismática e sobretudo de Escultura que documentam profundamente a história desta arte desde a Antiguidade tardia até ao Barroco são preciosas, mas não fazem hoje o género de arte que atrai multidões. Melhor para quem o visita, que pode ter só para si ou quase obras tão deslumbrantes quanto "A Bailarina", de Canova, "Mater Dolorosa", de Pedro Rondán, ou os altares de Tilman Riemenschneider, o mestre de Wurzburgo.

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