O propósito é fazer do Matatero um dos grandes centros culturais multidisciplinares da Madrid do século XXI e, do mesmo golpe, potenciar o prolongamento do eixo cultural Recoletos-Prado, contribuindo assim para criar uma nova centralidade urbana em torno do rio Manzanares. Em funcionamento estão as naves dedicadas a espectáculos musicais, que acolhem festivais como o de Cultura Urbana, Verões na Cidade e Noites Brancas, ao teatro e à dança (residências das companhias Teatro Español, Compañía Nacional de Danza e Ballet Nacional), a Central de Design (com exposições como a que actualmente se articula com a versão holandesa da Experimenta Design), o laboratório de criação Intermediae e os pavilhões dedicados a grandes exposições (a primeira das quais é "Tesouros Submersos do Egipto", que acaba de inaugurar e estará em exibição até 28 de Setembro próximo). Seguem a instalação das colecções de arte contemporânea do Arco e a abertura de espaços dedicados à literatura, à arquitectura e ao cinema.
Se na CaixaForum o termo de comparação é a londrina Tate Modern, já no Matadero a analogia é o parisiense Pavilhão de Tóquio, com o seu perfume a Arte Povera. Diferentes arquitectos têm sido convocados para reconverter os pavilhões do antigo matadouro de Madrid, mas o denominador comum é intervir o menos possível, ou melhor, intervir sobretudo para clarificar e acentuar o esqueleto industrial dos edifícios, intercalando-lhe apenas os elementos que viabilizam os seus novos funcionamentos. Assim na recepção e na primeira nave, que acolhe o programa Intermediae, o arquitecto madrileno Arturo Franco adicionou placas de aço para definir o acesso e um novo pavimento em betão, mas, de resto, tanto o tecto como os pilares são os originais.
3 Paseo do Prado ampliado
Os pavilhões do antigo matadouro de Arganzuela são construções em ladrilho e granito, ao estilo neomudejar em voga na Espanha das primeiras décadas do século XX. É o mesmo estilo que se reconhece no antigo prédio de escritórios da Caja Madrid, uma dezena de quarteirões mais acima (Ronda de Valência, 2), outro edifício centenário recriado para fins culturais. Reabriu fez em Dezembro cinco anos, passando a responder pelo sugestivo nome de La Casa Encendida (incendiada), destacando-se como a primeira extensão do eixo cultural da cidade, cerca de meio quilómetro a sul do Rainha Sofia. Fachadas e pátio foram devolvidos ao seu brilho original, ao passo que os espaços interiores se adaptaram à dinâmica dum centro multiusos, que expõe arte de vanguarda e promove espectáculos alternativos, ao mesmo tempo que organiza jornadas sobre as questões ambientais e debates sobre os grandes dilemas do nosso tempo, integrando ainda uma loja de comércio equitativo. Até hoje registou cerca de dois milhões e meio de visitantes, na maior parte jovens, funcionando como uma espécie de corolário "indie" do triângulo de grandes museus do Paseo Do Prado, ele próprio sujeito a intervenções de fundo ao longo da última década.
Os três museus do Prado estão alojados em edifícios civis do século XVIII, que acabaram por precisar de ser modernizados e ampliados. A adaptação do Palácio de Villahermosa destinada a acolher o Museu Thyssen-Bornemisza, inaugurado em 1992, passou sobretudo pela reorganização do espaço interior pelo arquitecto navarro Rafael Moneo. A sequente adição da colecção de Cármen, a esposa do barão Thyssen, ditou por seu turno a ampliação de 2004, assinada pelo atelier de Manuel Baquero e Francesc Plá. Esta ampliação pautou-se por uma linha de continuidade com o palácio de origem, uma equação quase inversa da que veio a marcar a ampliação do Rainha Sofia protagonizada pelo arquitecto francês Jean Nouvel em 2005, que resultou numa espécie de duplo futurista do Hospital Geral, sede primeira do museu de arte espanhola do século XX.