Quem viajar pelo Vietname ouvirá o mesmo aviso vezes sem conta: beware of the copycats. O aviso pode estar impresso nas fotocópias do guia Lonely Planet - que parece mesmo um guia Lonely Planet, mas é um guia pirateado com fotocópias das páginas - ou vir de alguém que aconselha um restaurante, um hotel ou uma agência: é preciso ter a certeza de que se está no sítio certo.
A primeira vez que vi uma referência a uma imitação no Vietname foi num texto de Steve Merchant, um dos criadores da série britânica The Office, no jornal britânico The Observer. Quando visitava a antiga cidade imperial de Hué, Merchant viu no Rough Guide uma recomendação de um restaurante local, gerido por uma família surdo-muda. Depois de chegar ao restaurante levado por um riquexó, Merchant apercebeu-se que há dois restaurantes lado a lado, ambos com sinais dizendo: "Gerido por família surdo-muda, recomendado pelo Rough Guide" - e ele está no sítio errado, como provam os gritos da filha para o pai, e os gestos da família do restaurante do lado, que está vazio.
As tentativas de seguir recomendações dos guias esbarram tanto nestas descaradas cópias como na tendência para os restaurantes mudarem frequentemente de sítio e de nome.
Numa rua há, por exemplo, dois Little Hanói - isto para já não falar no Little Hanói que existe uma ou duas ruas mais à frente. Ambos os Little Hanói têm letreiros com letras semelhantes, cores parecidas, e ambos garantem que são recomendados pelos guias turísticos. É impossível saber qual é o verdadeiro.
Também há restaurantes que têm um sinal dizendo "recomendado pelo Lonely Planet" - mas nas páginas do Lonely Planet não há qualquer referência ao estabelecimento. O mesmo com páginas de hotéis na Internet, que ostentam orgulhosamente o "selo" de aprovação do guia - mas nem todos são recomendados nas páginas do livro.
A praga das cópias estende-se até às agências de viagens, que podem ser essenciais para programar viagens internas ou para países próximos (nota: por vezes as agências têm voos mais baratos do que a Vietnam Airlines no seus escritórios).
Por exemplo, para ir a Halong Bay, uma baía com mais de mil de ilhas e ilhéus, Património Mundial da UNESCO, é muito difícil organizar a viagem sem recorrer a uma agência. Mas o guia e os fóruns de viagens avisam para agências demasiado baratas que enchem autocarros e barcos com o maior número possível de turistas em cruzeiros sem qualidade.
Uma das agências aconselhadas chama-se Ocean Tours - mas a sua morada já não é a mesma do guia. Algumas pistas parecem mostrar que se trata da verdadeira: não há pressão para comprar, as vendedoras falam bem inglês e mostram no computador o itinerário do cruzeiro e fotografias do percurso de bicicleta e da ilha privada da companhia. Parece a original e, prova-se depois, era mesmo. Questionamo-nos sobre como seriam as cópias.
Mas onde o problema das cópias é maior é nos hotéis: há em várias cidades vietnamitas, mas especialmente em Hanói, uma verdadeira praga de cópias de hotéis. O que é especialmente perigoso é quando, ao chegar ao aeroporto, o turista se mete num táxi, diz que quer ir para o hotel onde fez a reserva, e é levado para outro com o mesmo nome - mas que não é o que procura. O negócio envolve motoristas de táxi e até os condutores do autocarro que sai do aeroporto para a cidade. Dois turistas holandeses fizeram um relato assustador de como foi difícil escapar do autocarro e do hotel-cópia para onde foram levados: mesmo tendo lido o aviso do guia, mal conseguiram escapar do esquema. O modo mais fácil é marcar o hotel antes - não é preciso muita antecedência, basta no dia anterior, e tudo pode ser, regra geral, feito online, o que é conveniente para quem viaja sem datas definidas. A maioria dos hotéis e pensões envia depois um táxi ao aeroporto.