Fugas - Viagens

Luís Maio

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Bruxelas - O orgulho e o preconceito da era colonial

O teatro da selva

Boa parte do acervo de Tervuren veio dessas primeiras décadas de expansão do Estado Livre do Congo. Resultou da paixão coleccionista então partilhada por militares e cientistas, agentes coloniais e missionários, aventureiros e negociantes, ou melhor, dos intercâmbios (que se suspeitam nada equitativos) por eles mantidos com as tribos do estuário do Congo. A colecção não parou de crescer na era do Congo Belga, passando depois da independência a ser ainda enriquecida pela aquisição de peças em países vizinhos e um pouco toda a África subsariana. Daí a extraordinária riqueza do museu, que guarda 10 milhões de espécimes animais, 250 mil escantilhões minerais, 180 mil objectos etnográficos, oito mil instrumentos de música e mais de vinte mil mapas.

Com um património deste quilate não admira se os artigos em exposição permanente representam menos de cinco por cento da colecção do museu. Mesmo assim, são mais do que suficientes para manterem o visitante ocupado durante um dia inteiro. As mais valiosas encontram-se em duas grandes salas, uma de cada lado da rotunda de entrada, que são dedicadas à Antropologia. É nestes espaços que o Museu Real da África Central mais se revela como um museu de um museu, nomeadamente quando expõe máscaras fabulosas em vitrinas antiquadas, segundo o princípio também anacrónico de uma etnia = um estilo, apresentando as tribos congolesas como entidades isoladas e sem história pré-colonial, o que hoje é naturalmente considerado como não científico.

Outra coisa pouco científica e tão fora de moda que acaba por estar na moda é a apresentação da colecção de zoologia através de animais embalsamados em poses arrepiantes e em duelos sanguinários, com essa mais-valia teatral que são os cenários pintados a aguarela por Max Poll e os dioramas compostos pelo pessoal do museu entre 1959 e 1972. Claro que tudo isto está muito longe dos critérios de exposição do terceiro milénio, mas é por isso mesmo o Museu Real da África Central antes da reforma é tão fascinante e tão revelador.

Museu Real da África Central
Tel.: +32 02 7695246
www.africamuseum.be
Dias úteis das 10h às 17h, sextas e sábados até às 18h. Encerra às segundas.
Adultos 4€, seniores 3€ e crianças (menos de 13) 1,5€

Como ir

Para fazer chegar gente ao Palácio das Colónias, Leopoldo II lançou uma nova estrada de duas vias e uma linha de eléctrico, ligando Tervuren e Montgomery, já em Bruxelas. A linha 44 continua a ser servida por eléctricos antigos e é um dos melhores passeios que se podem fazer em transportes públicos na capital belga, atravessando aquele que já foi o subúrbio mais chique da cidade. O trajecto desde a saída do metro em Montgomery leva cerca de 25 minutos, depois são mais dez a pé até à entrada do museu. A alternativa para chegar a Tervuren é apanhar o autocarro 830 (todos os vinte minutos) no aeroporto de Bruxelas.

Onde ficar

La Vignette
Leuvensesteenweg 12, Wezembeek-Oppem
Tel.: +32 02 7678356
A 100 metros da entrada do museu

Cala Meertens
Brusselsesteenweg 108,
3080 Tervuren
Tel.: +32 02 7674514
Bed & breakfast ao lado do terminal de eléctricos para Bruxelas

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