Fugas - Viagens

Pedro Cunha

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À procura do "glorioso Éden"

Seria, porém, esse movimento que misturou a nostalgia de um passado pré-Revolução Francesa (com a sua componente de reacção ao racionalismo do "Século das Luzes") com o sublinhar do que é emocional, espontâneo, irracional, até transcendental, que atrairia a Sintra os que desejavam um regresso à Natureza a esta luxuriante Natureza que Sintra, mesmo sem os seus parques, sempre abrigou.

Assim nasceu o Palácio e, sobretudo, o Parque da Pena, assim nasceu o Parque de Monserrate, assim culminaria este mundo de ilusão e cenografia, num sopro derradeiro e supremo, nesse imenso cenário de Ópera que é a Quinta da Regaleira. A imaginação de quem a promoveu um homem riquíssimo, um brasileiro de origem portuguesa e que português se tornou, Carvalho Monteiro, curiosamente misturada com a atracção pela ciência e o culto da memória e de Camões, e o génio decorativo do italiano Luigi Manini autor também do Palácio do Buçaco permitiram uma obra serôdia que só podia estar em Sintra.

Entretanto, durante o chá em Seteais, o sol desaparecera no horizonte. E o pacato hotel estava a transformar-se para receber o júri do Prémio Pessoa, o que nos levou a desaparecer. Não sem antes voltarmos a erguer a vista para o Palácio da Pena. O volátil abraço das nuvens desaparecera por completo e este destacava-se agora, solto no ar, iluminado, do breu de um princípio de noite sem luar.

A vila é para ser descoberta a pé

As ruas e estradas de Sintra foram feitas para serem percorridas a pé. Mesmo quando isso exige caminhar um pouco mais do que o habitual e por caminhos desconhecidos onde, com sorte, reencontramos a solidão que nos permite sentir que a serra, ou mesmo as quintas e as casas, são nossas.

E não é possível descobrir Sintra a correr, em excursão, sempre a olhar para o relógio. Aqui tudo exige tempo para contemplar, para descansar, até para nos perdemos. Da mesma forma que, sem angústia, pode-se sempre regressar a Sintra, que há sempre qualquer coisa que ficou por descobrir.

Escolhamos então, de entre muitos percursos possíveis, alguns fortemente recomendáveis

Entre a vila e o Castelo dos Mouros

Uma boa forma de chegar a Sintra é vindo de comboio. A velha estação, que perdeu a sua importância desde que o antigo apeadeiro da Portela se transformou no principal nó da rede rodo-ferroviária, mantém um encanto provinciano e é um bom ponto de partida para um passeio que exige algum fôlego e energia. Deve-se sair pela esquerda, tomar à esquerda a Rua João de Deus e, de novo à esquerda, a rua (ou estrada) das Murtas. Ao percorrê-lo iremos encontrar um dos mais belos panoramas sobre a Vila Velha e o Palácio Nacional, imponente com as suas duas gigantescas chaminés, tudo numa vista que se alonga até ao Atlântico. Prosseguindo em frente, é necessário ganhar fôlego pois vai-se começar a subir pelas escadinhas dos Clérigos até à Calçada do mesmo nome, que nos levará ao largo da Igreja de Santa Maria, templo que datará do reinado de D. Afonso Henriques. Quase em frente à igreja começa a íngreme subida para o Castelo dos Mouros, estando desde então o caminho bem sinalizado. Logo no início passa-se pelo edifício dos serviços florestais, que escondem os restos da antiga Igreja de São Miguel.

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