Não tarda entrar-se-á na Mata Nacional, onde o caminho segue aos ziguezagues por entre enormes blocos de granito e árvores seculares que, por vezes, se abrem para nos deixar espreitar sucessivas perspectivas sobre a vila de Sintra e as várzeas que se estendem até à Praia das Maçãs. Antes de entrar no Castelo passamos pelas ruínas de um templo cristão erradamente conhecido por mesquita e que, envolvido no verde, as pedras cobertas de musgo e hera, simboliza bem o romantismo neo-medieval de Sintra com a diferença que esta ruína é verdadeira.
Dentro do Castelo dos Mouros é necessário percorrer as suas muralhas e, espreitando por entre as ameias que terão sido mandadas reconstruir pelo rei D. Fernando II, apreciar os sucessivos panoramas que, conforme a hora do dia e os humores do microclima sintrense, se revelam a cada passo.
Conforme o fôlego que restar, podemos descer pelo mesmo caminho ou, de preferência, sair para a estrada que leva até à entrada do Parque da Pena e, guardando para outro dia essa visita, descer em direcção a São Pedro. Daí podemos seguir directamente de regresso à estação se, em vez de descermos pela Calçada de São Pedro, tomarmos a Rua do Roseiral (onde, do lado esquerdo, fica a fantasiosa moradia que Raul Lino construiu para a sua família) e descermos, pela Francisco dos Santos, até encontrarmos a Estrada de Chão de Meninos. Aí podemos seguir em direcção à Estefânea para pararmos no Gregório, uma das quatro fábricas de queijadas de Sintra, ou tomar o caminho à esquerda, que nos levará directamente ao ponto de partida.
Outra alternativa é, a partir de São Pedro, descer a Calçada até ao portão do Parque da Liberdade, que se atravessa até à Volta do Duche, saindo não muito longe de outra fábrica de queijadas, a mais antiga de todas, a Sapa. A estação não está longe e ainda se pode avistar o edifício dos Paços do Concelho, erguido num esforçado estilo neomanuelino.
Em direcção a Monserrate
O lugar central de Sintra é o largo fronteiro ao Palácio Nacional. Este, só por si, merece demorada visita, e só é pena que o Hotel Central, cujas janelas abrem para o antigo Paço Real e onde Eça de Queirós situou parte da acção de "Os Maias", não sirva já como poiso e ponto de partida. Gasto o tempo que for necessário a visitar o Palácio, um outro desafio "caminhante" conduzir-nos-á até Monserrate.
Antes de partir podemos preparar um farnel da Piriquita, outra das fábricas de queijadas mas onde a inigualável especialidade são os gulosos travesseiros. Seguimos então pela Rua Gil Vicente, deixando à direita a Igreja de São Martinho e, à esquerda, a Casa dos Ribafrias, que data do século XVI e, comprada por Alfredo da Silva, continua a pertencer à família Mello. Um pouco adiante encontraremos o "restaurante com alguns quartos" onde se costumava abrigar Lord Byron, o Lawrence, seguindo depois pela Almeida Garret "Sintra, amena estância/Trono de vicejante primavera/Quem não te ama? Quem, se em teu regaço/Uma hora de vida lhe há corrio/Essa hora esquecerá?" até ao Palácio da Regaleira, uma extravagância mandada construir por Carvalho Monteiro, o "Monteiro dos milhões", desenhada por um arquitecto-cenarista, Manini, num estilo neo-manuelino tardio e levado aos limites. Também aqui, nesta ou noutra ocasião, haverá que entrar, de preferência acompanhando uma visita guiada.