Fugas - Viagens

Pedro Cunha

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À procura do "glorioso Éden"

Quando viramos para a Barbosa du Bocage o caminho torna-se mais apertado e só volta a alargar para dar espaço ao terreiro limitado pelo Palácio de Seteais, hoje um hotel de luxo onde vale a pena entrar e, no mínimo, saborear um chá. O recente restauro deixou-o ao mesmo tempo mais confortável e mais próximo do que foi nos tempos em que os Marqueses de Marialva ali recebiam D. Maria I.

Voltando à estrada velha para Colares, o próximo ponto digno de nota é a Quinta da Penha Verde, inconfundível pela ponte que a une, num salto de granito sobre a estrada, à Quinta da Fonte dos Cedros. Doada por D. Manuel a D. João de Castro, a Penha Verde também povoa os romances de Eça, tendo as suas árvores dado sombra ao protagonista de "O primo Basílio".

Daí segue-se para Monserrate, onde o destaque principal deve ir para o parque, um lugar onde o botânico Robert Chodat encontrou "toda a vegetação das nossas estufas em plena natureza". Desenhado à inglesa, luxuriante, nele nenhum pormenor foi descuidado nem sequer uma falsa ruína erguida para que ali nada deixasse de seguir o cânone romântico. O pavilhão, exótico, de traça mourisca, fenece ao lado da riqueza dos jardins, bosques e áleas onde se reúnem as mais variadas espécies, algumas ali tendo encontrado alento para tentarem aproximar-se mais do céu.

E chega, que o passeio vai longo. O regresso pode fazer-se utilizando (quando funciona) um pequeno trem para turistas, um anacronismo que parece saído da Disneylândia, mas recomenda-se que se retome a estrada por onde se veio: percorrida em sentido inverso, é toda uma redescoberta.

Em redor da Pena

A descoberta, repousada, do Palácio e do Parque da Pena merece que lhe reservemos um dia. Aqui a tarefa está muito facilitada, pois a Montes da Lua-Parques de Sintra, que cobra bom preço pela entrada no mais visitado monumento nacional do país, disponibiliza desdobráveis que ajudam a descobrir o parque e até convidam a que o visitante se deixe conduzir pelo instinto, sem receio de se perder. E encantar, como Richard Strauss, que escreveu nunca ter visto nada "que valha a Pena": "Este é o verdadeiro jardim de Klingsor e, lá no alto, está o castelo do Santo Graal".

Esse castelo é o palácio que se tornou no símbolo máximo do romantismo português. Foi encomendado por D. Fernando II e erguido em torno de um pequeno convento de frades Jerónimos sob a direcção do barão de Eschwege, e todo ele é um capricho onde se misturam elementos medievais e orientais, mais um pouco de manuelino e até toques renascentistas. Vale a visita, apesar de não ter a grandeza do Palácio Nacional de Sintra. Neste é indispensável subir às varandas que, nos dias de atmosfera transparente, proporcionam panoramas inesquecíveis.

O parque (que se estende por 200 hectares) é um milagre só possível pela conjugação do particular clima da serra de Sintra com o seu quase eterno capacete de nuvens mas temperaturas amenas e da fertilidade do solo, o que permitiu a D. Fernando mandar vir todo o tipo de árvores e modelar o terreno para criar os lagos e grutas do imaginário romântico. Há inúmeros percursos possíveis, mas é indispensável passar pela Feteira da Rainha, uma bela colecção de fetos enquadrados por cameleiras, castanheiros e carvalhos, bem como uma túiagigante, vinda da América do Norte; pelo Jardim das Camélias (estão em flor nesta época do ano) junto ao Tanque dos Frades; pelo Vale dos Lagos; pela Fonte dos Passarinhos; pela Gruta do Monge; pelo Jardim da Rainha; pelo Templo das Colunas (um miradouro), no Alto de Santo António; e, claro, subir até à Cruz Alta, recentemente recuperada, o ponto mais alto da serra (529 metros).

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