Mas falar da República Checa não pode circunscrever-se a falar da capital. E isso mesmo propôs a organização de Turismo do país quando desafiou a Fugas a fazer um roteiro por alguns dos locais assinalados pela Unesco como património da Humanidade. Um roteiro necessariamente curto (há 12 locais do país assinalados na lista da Unesco, o que nos leva a admitir que a República Checa tem uma boa concentração patrimonial, se considerarmos a dimensão deste país) e percorrido a um ritmo apressado. Mas que permitiu perceber que há vida para além de Praga, apesar de ninguém resistir a comparar as outras cidades a partir dela. As outras cidades têm para já a vantagem - e que não é nada irrelevante - de podermos passear por elas sem nos acotovelarmos no meio dos turistas.
Para além do centro histórico de Praga, estão assinalados pela Unesco os centros de Ceský Krumlov e de Tele (que não visitámos), e ainda o centro de Kutná Hora, a cidade que chegou a rivalizar com Praga no estatuto de capital, alavancada pela riqueza trazida pelas minas de prata da região - ouviu falar dos cristais da Boémia? Pois a prata de Kutná Hora também não conheceu fronteiras e hoje a cidade oferece aos visitantes uma curiosa Casa da Moeda, onde é visível a importância que a cidade teve no mundo financeiro da Idade Média.
Porventura, foi em Kutná Hora que se cunharam as primeiras moedas que acabariam por dar nome à mais famosa divisa cambial do planeta. Na Europa da Idade Média, quando as primeiras tentativas de combater uma inflação algo inesperada trazida pela descoberta de prata na América latina fez descer o valor do dinheiro, em Kutna Hora cunhou-se o "taller", uma moeda de prata mais forte e valiosa do que o "gros de Praga" que então circulava. O "taller" de Kutná Hora ficou famoso, e atravessou o oceano para se começar a falar em dólar. Pelo menos a teoria existe, e em termos fonéticos não parece despropositada.
Aqui, em Kutná Hora, também as catedrais mereceram o reconhecimento da Unesco. A cidade tem a particularidade de ter não uma, mas duas catedrais: a mais antiga catedral gótica da Europa central, a Catedral de Assumpção da Virgem Maria, construída em 1290, junto ao mosteiro cisterciense de Sedlec; e ainda a impressionante catedral de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros, como não podia deixar de ser, que começou a ser construída em 1388 em estilo gótico, mas que tem também apontamentos de barroco, e mais tarde de gótico tardio, um estilo em que os arquitectos checos se especializaram na tentativa de a concluírem. O que só aconteceu... em 1905! O estilo neogótico checo - há quem lhe chame pseudogótico - tem como expoente reconhecido o arquitecto Josep Mocker, que assina a conclusão das intervenções na catedral de S. Vito, em pleno castelo de Praga, mas também na Catedral de São Pedro e São Paulo, em Brno, a segunda maior cidade do país.
Capital da Morávia, Brno tem, na lista da Unesco, apenas um local que actualmente não está visitável - a casa Tugendhat, um imóvel particular projectado pelo arquitecto Mies Van der Rohe, naquele que é o mais importante edifício que construiu na Europa. O centro de Brno não precisa de estar na lista da Unesco para merecer uma visita mais prolongada. Para além da já referida catedral, expoente máximo e icónico de um bairro-colina (a colina Petrov) pontuado por muitas casas barrocas bem conservadas, também o castelo de Spielberg, inserido num parque romântico de 17 hectares, da autoria de Antonin Sabánek, merece uma visita.