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República Checa, muito para além do património mundial

Construído como residência de um conde da Morávia, o Castelo de Spielberg foi remodelado durante o período austro-húngaro e convertido na "prisão das nações". Na II Guerra Mundial foi usado pelos alemães com essa mesma finalidade, e hoje é museu com exposições temporárias. Na esplanada do castelo faz-se um festival de fogo-de-artifício e concertos ao ar livre no Verão. A música clássica é uma constante em território checo. Desde a escola primária, todas as crianças aprendem a tocar um instrumento. Não se surpreenda se, ao virar de uma esquina, for brindado com os sons de um piano a ecoar a partir de uma janela, ou de um violinista a tocar no meio da rua. E isso sabe tão bem.


Foi você que pediu um paço arcebispal?

Os turcos não chegaram a entrar. Os romanos também não. Os checos sempre se orgulharam de dizer que eram cem por cento eslavos. Explica a simpática e insuperável guia que nos acompanhou por este périplo pela República Checa, Michaela Cerná, que as mais recentes provas de análise ao ADN mostram que, afinal, os checos são uma confluência de todos os povos, pelo facto de serem um país de atravessamento, situado no coração da Europa. Se alguns ficaram à porta, outros chegaram a entrar e provocaram fortes estragos no país. Tão ou mais devastadora do que as guerras religiosas hussitas, no século XV, foi a guerra dos 30 anos, com os suecos. Mais tarde, o território checo passou a fazer parte do império Austro-Húngaro. Em 1918, integrou a Checoslováquia, e só em 1993 passou a ser República Checa com as fronteiras que hoje se lhe conhecem.

País de atravessamento por excelência e com fronteiras a serem permanentemente redefinidas, não foi por uma família real (que não existe), ou por linhagens nobres que se construiu o legado da República Checa em termos de património. Foram antes os bispos, os poderosos bispos que se radicaram em Olomouc (a terceira maior cidade do país), que deixaram algumas das pérolas maiores deste país.

Um dos mais notáveis conjuntos desse legado está na cidade de Kromeríž, cujo castelo e jardins envolventes integraram a lista da Unesco em 1998. O castelo de Kromeríž é uma das peças de arquitectura mais importantes da Morávia. Fundado em 1260 por Bruno de Sachenberg, não foi de nenhuma família nobre, mas sempre do arcebispado, funcionando como residência de Verão para os bispos de Olomouc. O último arcebispo que viveu naquele castelo fê-lo até 1947. O monumento foi nacionalizado em 1950, tal como aconteceu aos mais importantes monumentos checos.

A Unesco reconheceu-o como um dos mais imponentes e bem conservados conjuntos de fortaleza e jardins do período barroco. Algumas das salas deste imponente edifício até poderão ser reconhecidas por quem viu e ainda se lembra do filme de Milos Forman, "Amadeus". As cenas de baile foram filmadas na chamada sala da Assembleia Constituinte Imperial, que foi transferida de Viena para aquele palácio em 1849, e nela se discutiu e aprovou a primeira Constituição da República.

A visita ao Palácio exige algum tempo, mas quem gosta de revisitar a história, perceber como se preparava uma recepção a um czar ou a um imperador, ou apreciar o investimento que o clero fazia em cultura não se sentirá defraudado. Para além da grandiosa biblioteca (que a nós nos fez lembrar a Biblioteca Joanina, da Universidade de Coimbra), o castelo de Kromreíž alberga também uma valiosa colecção de moedas, e uma das mais importantes colecções de pintura de toda a Europa. São milhares de quadros, um valioso auto-retrato de Anthonys Van Dyck, "Senhor com luvas", que tem a particularidade de ter sido pintado só com duas cores, branco e castanho, ou um ciclo de pintura gótica de Pieter Brueghel. A perícia e as técnicas de outros autores como o renomado Tiziano, o reconhecido Paolo Veronese ou Jacopo Bassano também podem ser apreciados nas paredes das muitas salas deste castelo.

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