Fugas - Viagens

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República Checa, muito para além do património mundial

Depois da visita ao castelo, nada pode saber melhor do que uma incursão pelos jardins. Trata-se de dois conjuntos distintos, mas igualmente belos. O primeiro, o chamado Jardim do Castelo, foi construído em 1509, foi reconstruído e remexido, até ficar com os impressionantes 64 hectares que ostenta hoje e que são um convite a momentos de relaxamento e de lazer. O segundo conjunto, o chamado Jardim Floral, foi construído em 1665 e é um misto de estilo renascentista e barroco clássico, ao estilo francês. Se pensar nos jardins de Versailles, encontra aqui uma aproximação. A construção é feita numa forma rectangular, de 300 por 485 metros, com uma rotunda no centro onde emerge um Pêndulo de Foucault, a demonstrar a rotação da terra no seu eixo.

Na cidade de Olomouc, a cidade dos arcebispos, sobressai a Basílica de São Venceslau e o castelo de Olomouc, que teve uma função religiosa mas também secular. Diz-se que neste castelo viveram princesas da Morávia, mas no século XI foi dentro daquelas paredes que se começou a desenvolver a diocese de Olomouc. Hoje, é este conjunto arquitectónico que encerra os mais antigos vestígios do período românico que é possível visitar na Europa central.

A maior atracção turística de Olomouc é, no entanto, o pilar da Santíssima Trindade, inserida na lista da Unesco no ano 2000. A coluna, com 35 metros de altura, impressiona logo pelo lugar de destaque que ocupa na praça central da cidade. Ao contrário do que se pode pensar inicialmente, não se trata de uma das chamadas colunas de peste, que existem um pouco por todas as cidades da Europa central para assinalar a passagem da doença pela cidade, em louvor dos que sobreviveram. O Pilar da Santissima Trindade é, por si só, um pequeno templo, construído entre 1716 e 1754, e que justificou a visita da imperatriz Maria Teresa à cidade para o abençoar. Com estátuas dos 18 santos mais venerados da Boémia - onde não podia faltar o São Venceslau - a coluna tem apontamentos de cobre folhado a ouro e é o orgulho não só dos Olomoucenses, mas de todos os checos.

Na salutar rivalidade que os Olomoucenses travam com as duas cidades do país que os superam em número de habitantes (Praga e Brno), os de Olomouc gostam de dizer que têm tudo o que os outros têm - os monumentos, a vida cultural, a universidade - a uma escala que torna tudo mais amigável. E nós achamos que têm toda a razão. A jornalista viajou a convite do Turismo Checo


Litomyšl, um castelo medieval transformado num conto de fadas

O tamanho não deveria contar para nada, mas parece que quanto mais pequena e concentrada for uma cidade na República Checa mais fácil é surpreendermo-nos com o seu grau de conservação. Também ajuda haver aqui uma escola superior de restauro, e não se deve menorizar o facto de as autoridades públicas gostarem de exibir a qualidade dos seus artistas, e permitirem que as paredes de algumas casas sejam feitas com assumida inspiração na literatura checa e nas novelas negras de Vachal. A verdade é que a sensação final trazida pela passagem em Litomyšl é a de que se trata de uma cidade onde há qualidade de vida e um total respeito pelo património. 

O ex-líbris da cidade é o seu castelo medieval, que no século XVI foi transformado num palácio renascentista por uma família de nobres - os Pernstein. No exterior, o palácio impressiona pelo seu revestimento, cerca de oito mil "cartas de amor", com envelopes talhados em relevo, sem que nenhuma figura se repita. No interior, para além da construção com arcadas voltadas para o pátio central, a lembrar o estilo italiano, o espaço mais marcante é o Teatro do Palácio, uma sala com capacidade para 120 pessoas, e com os cenários pintados por Dominik Worjack. Como este, só há mais quatro em todo o mundo (mais um na República Checa, dois na Suécia e um na Rússia). Não custa imaginar os nobres a visionar, a partir da tribuna, as encenações em palco, enquanto as mulheres tentavam ajeitar as largas saias e vestidos.

Também não custa imaginar o ambiente privilegiado em que nasceu o grande compositor checo Bedrich Smetana (na cervejaria do castelo). Apesar de ser "apenas" o filho do cervejeiro, apostou na música, e tornou-se num dos mais importantes compositores de ópera, todas com libreto em checo. Hoje dá o nome a um dos mais importantes festivais de música clássica da República Checa - o Litomyšl de Smetana.

Toda a colina do castelo merece passeios longos e pausados, de forma a apreciar como a arquitectura moderna convive de maneira tão harmoniosa com os espaços históricos. Bons exemplos disso são os jardins do Mosteiro, recuperados em 1999 com apoios comunitários e que hoje são um excelente local para desfrutar da cidade. Aqui apeteceu-nos parar longamente junto ao lago com um conjunto de estátuas de um famoso escultor checo, Olbram Zoubek. Quatro dessas estátuas estão posicionadas em cada um dos lados do lago, de braços abertos. Apetece ser mais uma e ficar por ali...

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