Nos prados a perder de vista, entre muitas plantas a merecer atenção, a iris-amarela (Iris pseudacorus) marca presença, nos rebordos da água. E os freixos são podados a metro e meio de altura, para que as vacas possam comer os seu rebentos. Tudo aqui tem um fim. Há áreas para pasto e outras para cultivo. Há campos inundáveis para onde a água é encaminhada nos invernos mais chuvosos, graças a engenhosos sistemas de condução construídos ao longo de séculos, primeiro sob comando de monges, mais tarde com o apoio dos inevitáveis holandeses, peritos nisto de desensopar a terra.
Com todos os conflitos habituais nos dias que correm - há pressões para secar mais áreas para a agricultura, o que altera o regime hidrológico e afecta, por exemplo, os criadores de ostras e mexilhões da Baia de Aiguillon - o parque Interregional do Marais Poitevin lá vai conseguindo manter este sempre frágil equilíbrio. Vale a pena comprar um guia - e o Guide de La Nature Dans Le Marais Poitevin, com belíssimas ilustrações de Benoît Perrotin está à venda em vários sítios - para descobrirmos, na viagem de regresso, como são múltiplos os ecossistemas gerados por esta intromissão do homem no curso das marés, e como é pouco, nesta primeira incursão na região, o tempo que temos para os descobrir.
Rechaçado para longe, o mar surge, calmo e nada vingativo, à medida que atravessamos o Mairais Desséché (área onde estão os campos de cultivo) e nos aproximamos da Baia de Aiguillon, um semi-circulo que, desde o norte de La Rochelle, desenha a costa até ao departamento mais a norte, Vendée. O dia ainda vai alto e há um avião de regresso para apanhar, mas os olhos e os cartões de memoria das máquinas fotográficas ainda guardam espaço para as cores que o sol impõe a esta enseada fortemente vigiada pelos Alemães, na Segunda Guerra. Os bunkers, escondidos no matagal, já não incomodam os pescadores que a partir dos seus abrigos ligados à terra por pontões, vão içando redes, à espera do peixe que há-de vir. Como faziam os homens que, há mais de oito séculos, ganharam de Guilherme X os privilégios que fizeram prosperar La Rochelle.
Como ir
La Rochelle passou a ter uma ligação directa ao Porto, com a Ryanair, que já viajava para outro aeroporto próximo, o de Poitiers. Há voos de ida e volta, quer à segunda, quer à sexta-feira, com preços variáveis. Na última semana era possível comprar bilhetes de ida e volta para Julho por pouco mais de 60 euros. Com excepção de Cognac, onde a sua presença é menos notada, a bicicleta é o meio de transporte de eleição para circular nos vários pontos visitados pela Fugas. Não faltam empresas a alugá-las, e La Rochelle tem um serviço público, o Yeló, que conjuga as "biclas" amarelas com outros meios de transporte ecológicos.
Onde ficar
A convite do Turismo de Oeste France, a Fugas ficou instalada no pequeno e charmoso Un Hotel en Ville, em La Rochelle (um três estrelas com quartos duplos entre 60 e 100 euros). Em La Couarde-Sur-Mer, na Ilha de Ré, a escolha recaiu sobre o Le Vieux Greément (três estrelas, a pedir 70 a 95 euros por quarto duplo). Já em pleno centro de Cognac, pernoitámos no Hôtel Héritage, um dois estrelas a dois passos a pé de tudo o que importa (70 euros por quarto duplo/noite), antes de seguir para a pitoresca vila de Coulon, no Marais Poitevin, onde ficamos alojados no Hotel Restaurante Le Central (60 a 74 euros, em quarto duplo). Mas como região turística, a Charente-Maritime dispõe de uma oferta imensa de alojamento, a preços mais ou menos acessíveis, conforme o caso.