A viagem tinha começado antes em Torres Vedras. Esta estratégica cidade estremenha deu o nome à linha de fortificações militares construídas em contra-relógio no começo do século XIX para barrar o caminho até Lisboa ao napoleónico Exército de Portugal, durante a que ficou conhecida como terceira invasão francesa. É ali que fica o Forte de São Vicente (GPS 39º 06" 01,634""N, 09º 15" 56,210""W), ponto avançado na primeira frente das Linhas de Torres e o segundo maior da rede, com os seus três redutos ligados por pontes levadiças. Os moinhos que lá existiam foram na altura reconvertidos em paióis.
Graças a obras de restauração e limpeza - "foram encontrados botões de fardas, balas, restos de madeira", revela Guardado da Silva -, está em muito bom estado de conservação, dominando todo o traçado urbano da cidade, µ ± infinitamente maior hoje do que na época da sua construção, que tinha como finalidade proteger. É um forte em estrela, perfeitamente adaptado ao terreno, com um fosso seco, paliçada e praça central para acolher uma guarnição de 4200 soldados. Numa das pontas, como que tutelando a cidade, está a ermida.
Em estreita articulação com o Forte da Forca (GPS 39º 05" 56,860""N, 09º 15" 26,837""W, onde ficará instalado o futuro Centro de Interpretação das Linhas de Torres Vedras, previsto para 2013), existem o castelo (GPS 39º 05" 41,066""N, 09º 15" 40,526""W) e o forte de São João (junto à ermida com o mesmo nome, actualmente no centro da cidade). Está delineado o essencial da linha defensiva de Torres Vedras.
Depois de percorrido o monumento, ainda não é hora de descer para o emaranhado urbano. Saindo de São Vicente, a cerca de 200 metros à direita, fica o pequeno Forte de Olheiros (GPS 39º 06" 11,777""N, 09º 16" 13,477""W), meio ocultado pelo revestimento arbóreo da zona. As muralhas ainda lá estão, com as canhoneiras viradas a norte, de onde se esperava que surgisse um dia o exército francês. No interior, ergue-se um elegante moinho que foi convertido em paiol, onde decorrem obras de recuperação para o transformar em espaço museológico.
Na estrada que sai de Torres Vedras em direcção à praia de Santa Cruz e a Mafra há mais fortes integrados na primeira linha de defesa. Alinham-se em direcção ao Atlântico, uns mais visíveis do que outros no relevo pouco acidentado da zona, mas sempre facilmente assinalados pelo nosso guia. Já com o mar à vista, fica o Forte do Paço (GPS 39º 05" 39,167""N, 09º 22" 45,301""W), na margem direita do rio Sizandro e da sua praia. Saindo da estrada principal e tomando um caminho de terra batida acessível por automóvel, chega-se ao que resta da construção - um velho moinho transformado em paiol, como em tantos outros fortes da região. A entrada é pelo lado sul, permitindo o acesso ao recinto. Pela sua localização, desempenhava funções duplamente defensivas, protegendo a costa de incursões por mar e ajudando a fechar as Linhas de Torres junto ao oceano.
Ao final da tarde, a luz do ocaso imprime uma beleza particular ao local, onde só se ouve o som entrecortado do mar, trazido pelo vento fraco. Mas é difícil imaginar que a guarnição de há dois séculos, sujeita a permanência prolongada no local e entregue a uma inactividade forçada, tivesse disponibilidade para saborear o encanto poético do local...