Fugas - Viagens

Forte de São Vicente

Forte de São Vicente Ricardo Silva

Continuação: página 3 de 6

Viajar no tempo pelas Linhas de Torres

Viagem no tempo

A importância estratégica de Portugal levou Napoleão Bonaparte a tentar a conquista do país. Falhou por duas vezes, em 1807 e 1809, derrotado pelo exército anglo-português, comandado por Arthur Wellesley. Em 1810 volta à carga, constituindo o Exército de Portugal. É uma força de 86 mil homens, composto por três corpos do Exército de Espanha, comandados respectivamente por Reynier, Ney e Junot (este já comandara a primeira invasão). A liderança suprema é atribuída a André Massena, incumbido por Bonaparte de tomar Lisboa. A principal ofensiva ficaria a seu cargo, consistindo na neutralização da cidade espanhola de Ciudad Rodrigo e de Almeida. A partir do Alentejo, Soult dirigir-se-ia para Lisboa pela margem esquerda do Tejo.

A ideia de construir linhas de defesa de Lisboa, que impedissem tal objectivo, é mais antiga e tem um momento-chave: 20 de Outubro de 1809. É a data de um memorando de Arthur Wellesley, futuro primeiro duque de Wellington, ordenando o reconhecimento do terreno e a fortificação dos pontos considerados mais convenientes para a defesa do território a norte da capital. "O plano de Wellington assentava num espaço fortificado, protegido por um conjunto de obras militares dispostas em linha, defendendo os acessos à capital, ao mesmo tempo que servia de refúgio ao exército anglo-português e à população", diz Carlos Guardado da Silva. Tendo como pontos de apoio o mar, a oeste, e o rio Tejo, a leste, "este sistema de defesa foi concebido para uma força móvel, que deveria desgastar e atrasar o exército francês contando, para tal, com a ajuda das guerrilhas populares", acrescenta.

Na base desta decisão está o trabalho de reconhecimento do terreno efectuado em Fevereiro de 1809 por José Neves Costa, oficial de engenharia que redigiu uma memória descritiva em Maio seguinte e a entregou a 6 de Junho, com um mapa, ao Secretário da Regência na Repartição da Guerra. Este fê-la chegar a Wellesley.

As obras militares iniciam-se a 3 de Novembro de 1809 em São Julião da Barra (linha defensiva para permitir uma retirada das tropas por mar em caso de necessidade). Nos dias seguintes arrancam também os trabalhos no Forte Grande da Serra (Alqueidão, Sobral de Monte Agraço) e Forte de São Vicente, em Torres Vedras.

O plano inicial previa uma segunda linha defensiva, ligando o mar ao Tejo, nomeadamente entre Ribamar e Vialonga. Mais tarde, Wellesley viria a acrescentar aquela que passou então a ser a primeira linha defensiva, mais a norte. Ligava Alhandra à foz do Sizandro, fechando os desfiladeiros de Arruda dos Vinhos, Torres Vedras e Mafra com grandes fortes e, construídos entre estes, outros de menor dimensão. Todos estavam articulados entre si, podendo ver-se uns aos outros. As fortificações eram em geral poligonais, construídas com muros fortificados e parapeitos, tornando possível o fogo cruzado. Na sua maioria dispunham de uma guarnição de 200 a 300 homens e entre três e seis canhões.

Na retaguarda foram construídas estradas (a maioria já em 1811 e 1812) que facilitavam as comunicações e garantiam a circulação das tropas e da artilharia e o abastecimento em víveres e munições. Foi instalado um sistema de comunicações ópticas envolvendo 10 estações, permitindo que uma mensagem transmitida a partir do quartel-general, em Pêro Negro, chegasse às linhas da frente em escassos sete minutos.

--%>