Quando os exércitos aliados chegaram às Linhas de Torres, estavam construídas 126 obras militares, tendo sido erguidas mais 26 até 1812. As três linhas defensivas dispunham de um total de 152 redutos e 600 peças de artilharia, defendidos por cerca de 140 mil soldados portugueses, espanhóis e ingleses, numa extensão de 88 quilómetros. "É o maior sistema de defesa efectiva na História", sustenta Guardado da Silva.
Por ordem de Napoleão, o avanço para sul só começou no final do Verão de 1810, para evitar as altas temperaturas nas Beiras. Mas o mau estado das estradas e a resistência inesperada encontrada em Almeida atrasaram a progressão das tropas francesas, o que deu tempo para melhorar o plano de defesa e alterar a construção das Linhas de Torres.
Massena pôs-se em marcha a 15 de Setembro, encontrando pela frente um território deserto. No dia 27, o futuro duque de Wellington barrou o caminho ao exército francês no Buçaco, numa tentativa para defender Coimbra. O desfecho foi inconclusivo e Wellesley retira tacticamente para Coimbra e Condeixa, deslocando-se depois para sul. As populações, por seu lado, já tinham há muito começado a dirigir-se para Torres Vedras, destruindo casas e todos os bens que não pudessem ser transportados. As tropas anglo-portuguesas chegam às Linhas de Torres Vedras a 8 de Outubro e Massena instala o seu quartel-general em Alenquer, enquanto Reynier se posiciona no Carregado e depois em Vila Franca de Xira. Ney, por seu lado, instala-se na Ota e Junot em Sobral de Monte Agraço.
Imagine-se a estupefacção de Massena quando, no final de 1810, chega junto deste dispositivo e percebe que está perante um obstáculo insuperável. Durante cerca de um mês apenas se registam algumas escaramuças, enquanto Massena aguarda por reforços que nunca viriam a chegar. Na noite de 14 para 15 de Novembro, o general francês retira das Linhas, estabelecendo-se na região de Santarém e Torres Novas, onde se encontrava Junot. Wellesley, por seu lado, instala o quartel-general no Cartaxo.
A fome e a peste, a par das incursões de uma guerrilha persistente e das deserções, minam o moral das fileiras francesas e a situação torna-se insustentável. No dia 4 de Março de 1811, o exército invasor francês inicia a retirada de Portugal e cruza a fronteira um mês depois. Lisboa estava salva e as Linhas de Torres tinham cumprido a sua função dissuasora, sem terem sido efectivamente postas à prova em combate.
Por montes e vales
Há monumentos recuperados e com sinalização de percurso, outros estão abandonados e inacessíveis. É impossível salvar todas as fortificações - está prevista a reabilitação de umas três dezenas por parte dos municípios da zona -, mas as que foram objecto de requalificação valem bem a visita. É o caso do Forte Grande de Enxara (GPS 38º 59" 31,19""N, 09º 13" 11,20""W), entre as localidades de Enxara do Bispo e Enxara dos Cavaleiros, no concelho de µ ± Mafra. Depois de atravessar esta última aldeia, o visitante deve passar a ponte sobre a A8 e virar à esquerda por uma estrada de terra batida sinalizada com a indicação "Circuito da Enxara". Encontra o sinal de acesso ao Forte Pequeno, em razoável estado de conservação, mas o melhor é seguir para oeste durante cerca de 200 metros até encontrar o Forte Grande. Os dois redutos estavam situados numa posição estratégica entre as duas primeiras linhas defensivas, tendo como objectivo central a defesa da estrada Torres Vedras-Montachique, apoiando o quartel-general de Wellington em Pêro Negro (GPS 38º 59" 20,337""N 09º 11" 55,782""W).