Passamos o revelim que se revela timidamente com a sua casamata à luz oscilante das lanternas e das estrelas no céu, mas não é ainda este a deter-nos. Seguimos pelo lado mais débil da fortaleza - "Nuestros hermanos descobriram que este lado era menos protegido do que o do rio e instalavam trincheiras mais abaixo" - e vemos como era montada a defesa: um mosquete, do século XVIII, usado em Valença, é empunhado numa das frestas (um quadrado coberto rasgado no muro) para um breve momento de reconstituição histórica totalmente informal.
E agora vamos descer ao fosso.
"Os meninos de Valença"
A primeira paragem não demora: estamos finalmente na base da muralha, entre esta e montes ordenados de terra, para continuar a seguir o fio à meada desta narrativa de séculos. E agora promete. "Não vamos fazer história", começa, "mas vou contar uma coisa que era desconhecida para mim: aqui, entre o Baluarte de Santa Ana e o Baluarte de São Jerónimo, ia nascer um revelim para proteger a Cortina da Coroada". Não se sabe porquê - falta de dinheiro, aventa Isilda (a sina já se manifestava então: por exemplo, foram construídas 159 canhoneiras, mas Valença nunca teve mais de 50 canhões), "acabou a guerra", grita alguém (na verdade, a configuração actual da fortaleza ficou concluída já a Guerra da Restauração era passado - foram mais de cem anos até que por fim terminasse) - mas nunca foi concluído.
A fortaleza continuou com os quatros revelins e este que é um "revelim virgem": tem a terra, a forma triangular, mas faltam a pedra e a casamata e percorre-se como se de um labirinto de jardim se tratasse, mas em vez de sebes temos terra a delimitá-lo, entre um cheiro intenso a urtigas, ervas. "Nunca tinha passado aqui", admira-se um jovem; "esta perfectamente hecho", elogia outro.
Já estamos à sombra de uma guarita da muralha quando Os meninos de Huambo se tornam Os meninos de Valença, alguns dos quais ali sentados na relva.
À vista da ponte da Porta da Coroada, nova paragem para ver um revelim terminado. Aqui a estrutura é claramente perceptível: o revelim, triangular e fortificado, é um abcesso exterior à muralha - uma primeira barreira defensiva. Passada a porta do revelim, há uma ponte de pedra que faz a transposição para a Coroada, por onde se entra por uma porta dupla, em túnel (como são todas aqui). Abre-se sob o brasão com a coroa de Portugal, no topo, e o brasão dos governadores militares abaixo: entre ambos, a data da conclusão, 1700 (só a porta demorou 40 anos a concluir). A guerra já tinha, portanto, terminado - "Fica como monumento de protecção a Valença e a Portugal. Antes de prosseguirmos, uma curiosidade sobre a Porta da Coroada, a última a ser fechada: aqui ficava a "roda dos expostos", revela Isilda.
"Nem sabia disto." "Nunca ouvi dizer."
E quem o diz viveu toda a vida entre as paredes protectoras da muralha. Também por isso, estas visitas são nocturnas, "para que os locais possam participar", explica Isilda Salvador. Ficaria a resposta às interrogações de um grupo de galegos: "Porque no lo hacen de día?"; "A lo mejor quieren ver como funciona."; "Dicen que es para darle algun encanto."