Subitamente, um alçapão no meio da rua da Conceição em pleno bulício da Baixa, entre eléctricos e automóveis. Descem-se meia dúzia de degraus ínfimos, desaparece-se da face da terra, encolhe-se o corpo e Lisboa parece desaparecer - mas não, é apenas mais uma das camadas da cidade, aqui em versão Olisipo, a denominação romana da capital lusa.
Meia dúzia de degraus são o suficiente para darmos por nós a viajar dois milénios durante um pequeno passeio por uma parte destas escuras e tropicalmente húmidas galerias do tempo do imperador Augusto (séc. I d.C.), que, por mais estudadas, parecem eternizar-se numa aura de mistério e exercerem um fascínio contínuo sobre os milhares de visitantes que fazem fila durante os únicos três dias por ano em que abrem ao público - de 23 a 25 de Setembro, integradas nas Jornadas Europeias do Património.
"Cuidado com a cabeça", vai avisando o nosso guia, o arqueólogo António Marques, do Museu da Cidade. E cuidado com os pés e onde se encosta, avisamos nós: as galerias, do tempo do imperador Augusto, permanecem inundadas ao longo de todo o ano e só quando se aproxima a época das visitas é que chega o corpo dos bombeiros para drená-las, operação que antes demorava dias e actualmente é despachada numa noite. Mas a água é omipresente e, obviamente, há um elevado grau de humidade.
Nós passeámos ainda com a equipa de técnicos a ultimar os preparativos para receber os visitantes, incluindo cuidados com a rede eléctrica, que este ano, informa Marques, precisou de mais trabalhos que noutros períodos, incluindo substituição de tubagens, mas os visitantes, por estes dias - em grupos de 20 e em visitas em redor dos 20 minutos - já deverão ter tudo pronto à sua espera.