O principal empreendedor da construção do ascensor em Braga foi o empresário Manuel Joaquim Gomes, que, mesmo desafiando a oposição de vários responsáveis locais, viu nele um complemento natural à linha do "americano", inicialmente puxado a mulas, que ligava o centro da cidade ao pórtico do Bom Jesus. O elevador viria também valorizar o sítio como estância turística, em que o empresário estava já também a apostar com a transformação dos antigos "quartéis" de peregrinos em hotéis virados para uma nova classe de visitantes e turistas.
A inauguração oficial do funicular teve lugar no dia 25 de Março de 1882, após temerários testes realizados duas semanas antes. "É realmente admirável a simplicidade do maquinismo e a segurança dele. As paragens fazem-se com a máxima prontidão, apesar da celeridade da ascensão, sem que se pressinta o menor abalo, ou se experimente o mais leve incómodo. Pessoas vimos ali, que depois de haverem expressado os seus receios, fizeram a sua primeira subida, e perderam por tal modo o susto que não duvidaram arriscar a vida 7 e 8 vezes na mesma tarde. Houve um timorato que fez durante a tarde 12 ascensões! É assim que se formam os heróis" - assim descreveu a imprensa bracarense essas viagens experimentais, quando cada bilhete de ida-e-volta custava 100 réis (hoje custa dois euros).
O ascensor do Bom Jesus mantém praticamente a sua traça original - a estação de entrada ainda mantém o mesmo letreiro da "Sahida" -, com as suas cabinas amarelas, brancas e vermelhas. E não tem registo de qualquer acidente. Continua a ser uma tentação a que é difícil resistir em alternativa à via-sacra da subida do monte.
Outro ex-líbris do Bom Jesus é o monóculo que - segundo se crê - aí terá sido instalado pouco tempo antes do elevador. O óculo foi também dos primeiros a ser instalado no país, possuía dois conjuntos ópticos com três lentes cada e permitia uma vista aproximada da Cidade dos Arcebispos. Retirado, há oito anos, do varandim que para ele tinha sido construído de propósito junto à estação do ascensor, "o binóculo vai ser reposto no seu lugar, em Novembro", diz o presidente da Confraria do Bom Jesus, João Varanda. Vai voltar a poder-se "ver Braga por um canudo".
Quando ir
O Bom Jesus registou, em 2010, um milhão de visitantes, segundo os números da Confraria - em 1882, à data da inauguração do elevador, o número anual estimado de peregrinos era de 10 mil! Sem surpresa, o Verão e a Semana Santa são as épocas de maior fluxo de visitantes. Mas, verdadeiramente, qualquer altura do ano - desde que faça sol - é boa para uma visita a este santuário religioso, arquitectónico e paisagístico.
Como ir
O destino Bom Jesus está bem assinalado em qualquer das estradas que circundam a cidade de Braga, onde se chega com facilidade a partir da A3 (Porto - Valença) ou da A11 (Apúlia - Guimarães). O monte sagrado fica na saída de Braga para Norte (Avenida João Paulo II/ EN 103), em direcção a Chaves, na encosta oposta à Universidade do Minho.
Onde ficar
Há quatro hotéis no perímetro do Bom Jesus, todos eles hoje geridos pela Confraria. O mais antigo é o Elevador, cuja fundação remonta à década de 80 do século XIX, quando deixou de ser um simples "quartel" de peregrinos e estrebaria. Chegou a ser chamado Hotel Higiénico e Grande Hotel, e era o local de hospedagem da aristocracia que demandava a estância do Bom Jesus na viragem dos séculos XIX-XX. A sua localização é a mais privilegiada, já que oferece uma vista única sobre a encosta e sobre Braga. De cada um dos dois lados da igreja, há os hotéis do Parque e do Templo. Este resultou da recuperação recente de um edifício de recorte neoclássico, onde se manteve a belíssima fachada azul e branca com os azulejos da época. A seu lado, fica o antigo edifício do Casino (apesar do nome, nunca chegou a funcionar como tal), que foi projectado pelo arquitecto Raul Lino (o mesmo autor da Casa das Estampas, actual loja, e das colunas do coreto), agora transformado em edifício multiusos (congressos, reuniões, almoços, casamentos, baptizados...). O Hotel do Parque resultou também da reconstrução de um edifício oitocentista. Mais acima, ladeando o Lago, fica o hotel com este nome, que foi a mais recente aquisição da empresa Hotéis do Bom Jesus. É o único com 3 estrelas (os outros têm 4) e também o que está equipado com um clube de saúde.