Fugas - Viagens

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  • Auto-retrato: Mãe elefante e cria captados pelas câmaras automáticas do parque, sensíveis ao movimento
    Auto-retrato: Mãe elefante e cria captados pelas câmaras automáticas do parque, sensíveis ao movimento Parque Nacional da Gorongosa

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Gorongosa, lugar do silêncio

Há uma energia nova nas comunidades que rodeiam o Parque Nacional da Gorongosa. Domingos Muala, do departamento de desenvolvimento humano, nota-a. "Antes, só os fiscais e suas famílias se identificavam com o parque. Durante o tempo colonial, as pessoas foram forçadas a deixar o espaço para os animais. Aquele forçar criou rancores. Além de perderem o espaço, os lugares sagrados onde os avós foram enterrados, não ganhavam nada. O rancor está sendo sarado agora."

O desenvolvimento local é um dos pilares do Projecto de Restauração da Gorongosa. No início, reinava a descrença. Domingos Muala alfabetizou uns quantos, ensinou português a muitos mais, inglês a uns poucos. Centenas foram contratadas pelo parque ou pelos concessionários. "Agora, há muita gente com casas, motorizadas, telefones celulares, coisas que antes não tinham sonhado ter." E o projecto tem captado parceiros para construir escolas e unidades de saúde.

Mesmo optimista, o professor não tem ilusões. "Há muitas pessoas sem poder de compra que continuam a pensar no parque como o sítio onde vão buscar a carne porque querem mandar o filho à escola ou à universidade. E o que queremos é que ninguém mate os animais. Daqui a 20 e tal anos, quando já forem muitos no parque, então as comunidades poderão caçar, mas de forma organizada."

Não se pode pensar a preservação da fauna bravia sem integrar a flora ou os rios. Os métodos de cultivo tradicionais, baseados no corte e na queima, depressa degradam os solos, a fauna, a flora. Devagar, o parque tenta contrair essas práticas. "Ensinamos as pessoas a fazer adubo com material local. No fim da colheita, em vez de pôr fogo, as famílias podem cortar e deixar apodrecer. Se este ano numa porção produziram milho, era bom que noutro ano produzissem feijão."

O projecto financiou às mulheres da associação a compra e instalação de uma bomba, de um reservatório de água e um sistema de irrigação gota-a-gota. Domingos Muela vê ali um exemplo de sucesso. "Para além da machamba comum, cada senhora criou a sua própria machamba."

Encontrei a presidente da associação uma manhã, junto à escola da Comunidade do Vinho. "Não costumam vender tudo", traduziu o guia. "O restaurante precisa de repolho. Elas recolhem 10, eles pedem seis. O resto apodrece." E isso é um desconsolo para elas, que ainda não aprenderam a dividir ou a transformar as sobras.

Há qualquer coisa de perverso nesta melhoria de vida. "As pessoas que trabalham no parque têm mais esposas do que antes", diz Corina Clemente, técnica de saúde pública que está a coordenar um projecto de saúde e ambiente. "A primeira coisa que faz um homem quando tem mais rendimentos é ter mais uma esposa, mais filhos." E a sobrepopulação é uma das maiores ameaçadas à biodiversidade.

Há um esforço de formação de agentes polivalentes elementares de saúde. Brigadas móveis devem começar a visitar comunidades a um ritmo mensal, com um enfermeiro a fazer planeamento familiar, consulta pré-natal, despistagem e aconselhamento de VIH, tratamento de diarreias, malária e outras doenças.

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