Fugas - Viagens

  • Nuno Ferreira
    Nuno Ferreira
  • São Miguel. Estrada da Lagoa do Fogo
    São Miguel. Estrada da Lagoa do Fogo Nuno Ferreira
  • São Miguel. Faial da Terra
    São Miguel. Faial da Terra Nuno Ferreira
  • São Miguel. Salto do Prego, Faial da Terra
    São Miguel. Salto do Prego, Faial da Terra Nuno Ferreira
  • São Miguel. Faial da Terra
    São Miguel. Faial da Terra Nuno Ferreira
  • São Miguel. O cozido das furnas
    São Miguel. O cozido das furnas Nuno Ferreira
  • São Miguel. Vila Franca do Campo
    São Miguel. Vila Franca do Campo Nuno Ferreira
  • São Miguel.  Vila Franca do Campo, festa dos pescadores
    São Miguel. Vila Franca do Campo, festa dos pescadores Nuno Ferreira
  • São Miguel
    São Miguel Nuno Ferreira
  • São Miguel. Barbearia Benfica, Um Museu - Arrifes. Sr. José António Carvalho
    São Miguel. Barbearia Benfica, Um Museu - Arrifes. Sr. José António Carvalho Nuno Ferreira
  • São Miguel. Barbearia Benfica, Um Museu - Arrifes
    São Miguel. Barbearia Benfica, Um Museu - Arrifes Nuno Ferreira
  • São Miguel. Junto ao miradouro da Vigia
    São Miguel. Junto ao miradouro da Vigia Nuno Ferreira
  • São Miguel. Caldeiras Velhas
    São Miguel. Caldeiras Velhas Nuno Ferreira
  • São Miguel. Feteiras
    São Miguel. Feteiras Nuno Ferreira
  • São Miguel. Feteiras
    São Miguel. Feteiras Nuno Ferreira
  • São Miguel. Mosteiros
    São Miguel. Mosteiros Nuno Ferreira
  • São Miguel. Vista do Miradouro do Escalvado, Mosteiros ao fundo
    São Miguel. Vista do Miradouro do Escalvado, Mosteiros ao fundo Nuno Ferreira
  • São Miguel.Ribeira Funda vista da estrada para Fenais da Ajuda
    São Miguel.Ribeira Funda vista da estrada para Fenais da Ajuda Nuno Ferreira
  • São Miguel. Na Bretanha
    São Miguel. Na Bretanha Nuno Ferreira
  • São Miguel. Romeiros da Lagoa a chegar aos Ginetes
    São Miguel. Romeiros da Lagoa a chegar aos Ginetes Nuno Ferreira
  • São Miguel. Lagoa
    São Miguel. Lagoa Nuno Ferreira
  • São Miguel. Na pesca do atum
    São Miguel. Na pesca do atum Nuno Ferreira
  • São Miguel.Na pesca do atum no Ponta dos Mosteiros da Caloura ao largo do Nordeste da ilha
    São Miguel.Na pesca do atum no Ponta dos Mosteiros da Caloura ao largo do Nordeste da ilha Nuno Ferreira
  • São Miguel. Porto da Caloura
    São Miguel. Porto da Caloura Nuno Ferreira
  • São Miguel. No Nordeste
    São Miguel. No Nordeste Nuno Ferreira
  • São Miguel. São Pedro de Nordestinho
    São Miguel. São Pedro de Nordestinho Nuno Ferreira
  • São Miguel. Santo António de Nordestinho
    São Miguel. Santo António de Nordestinho Nuno Ferreira
  • Santa Maria. São Lourenço
    Santa Maria. São Lourenço Nuno Ferreira
  • Santa Maria. Cascata do Aveiro
    Santa Maria. Cascata do Aveiro Nuno Ferreira
  • Santa Maria
    Santa Maria Nuno Ferreira
  • Santa Maria.
    Santa Maria. Nuno Ferreira
  • São Jorge. Fajã dos Vimes
    São Jorge. Fajã dos Vimes Nuno Ferreira
  • São Jorge. Serafim Brasil, agricultor e defensor da Fajã do Mero
    São Jorge. Serafim Brasil, agricultor e defensor da Fajã do Mero Nuno Ferreira
  • São Jorge. Fajã de São João
    São Jorge. Fajã de São João Nuno Ferreira
  • São Jorge. Fajã da Caldeira de Santo Cristo
    São Jorge. Fajã da Caldeira de Santo Cristo Nuno Ferreira
  • São Jorge. Ponta do Topo
    São Jorge. Ponta do Topo Nuno Ferreira
  • São Jorge. Procissão, Beira
    São Jorge. Procissão, Beira Nuno Ferreira
  • São Jorge. Beira
    São Jorge. Beira Nuno Ferreira
  • São Jorge. Tourada à corda, Porto da Calheta,
    São Jorge. Tourada à corda, Porto da Calheta, Nuno Ferreira
  • Terceira. Bodo de leite, Fontinhas
    Terceira. Bodo de leite, Fontinhas Nuno Ferreira
  • Terceira. Na estrada para as Doze Ribeiras
    Terceira. Na estrada para as Doze Ribeiras Nuno Ferreira
  • Terceira. Espírito Santo no Império da Rua de Baixo, Angra
    Terceira. Espírito Santo no Império da Rua de Baixo, Angra Nuno Ferreira
  • Terceira. Espírito Santo, Rua de Baixo, Angra
    Terceira. Espírito Santo, Rua de Baixo, Angra Nuno Ferreira
  • Terceira. Biscoitos
    Terceira. Biscoitos Nuno Ferreira
  • Terceira. Negrito-Cinco Ribeiras
    Terceira. Negrito-Cinco Ribeiras Nuno Ferreira
  • Terceira. Miradouro da Chanoca. Negrito-Cinco Ribeiras
    Terceira. Miradouro da Chanoca. Negrito-Cinco Ribeiras Nuno Ferreira
  • São Jorge. A caminho do Pico da Esperança
    São Jorge. A caminho do Pico da Esperança Nuno Ferreira
  • São Miguel. Salto do Cabrito, Ribeira Grande
    São Miguel. Salto do Cabrito, Ribeira Grande Nuno Ferreira

Nuno anda a dar a volta às ilhas dos Açores a pé

Por Mara Gonçalves

Primeiro, fez Portugal continental a pé, uma longa caminhada de dois anos. Agora, os seus passos são pelos Açores, ilha a ilha, conquistando caminhos, deixando-se levar pelas conversas e culturas locais, sem pressas. Entre gentes e festas, vai descobrindo uma Natureza assombrosa e até lugares “mágicos”.

Depois de quase dois anos a percorrer Portugal continental a pé, Nuno Ferreira lançou-se em nova e longa caminhada pelas terras e tradições, pelos vestígios de cultura popular e quotidianos esquecidos. Agora é a vez dos Açores, que anda a descobrir passo a passo desde Março. Nas pernas já leva São Miguel, Santa Maria, Terceira e São Jorge. E segue com os olhos lavados na paisagem bucólica das ilhas, o corpo sacudido nas festas populares, na tourada à corda, na pesca do atum. Com o espírito acolhido na hospitalidade e memória das gentes. Em Setembro, segue a sua odisseia por caminhos da Graciosa, Pico e Faial. Mas não há data para terminar o arquipélago, que este é um percurso para ser feito sem pressas ou calendários.

Nos Açores, o jornalista tem seguido a mesma rotina da primeira viagem, retratada no livro “Portugal a Pé”: longos passeios entregues à beleza paisagística, encontros constantes com as gentes, memórias e tradições. Caminhadas por serras, praias e campos que desembocam invariavelmente nas povoações e lugarejos, onde vai perscrutando o quotidiano açoriano, conversando com quem encontra. E é aqui, no contacto com as pessoas, que Nuno Ferreira mais sente diferenças relativamente à viagem feita pelo Portugal profundo continental.

Se no continente o surpreendia a desconfiança com que as pessoas o recebiam – muitas vezes tomando-o por peregrino, vagabundo ou pior –, nos Açores “não passa por nada que não seja turista ou jornalista”. Mas o que mais o tem marcado nas ilhas é o facto de “ainda não se ter perdido a vida comunitária”, um contraste imediato com a imagem desoladora que encontrou no interior continental, caracterizado pela desertificação e pela “desagregação do mundo rural”. Nos Açores, “apesar de uma grande sangria de gentes” emigradas para os Estados Unidos ou Canadá, as comunidades ainda existem como tal: “chego a uma freguesia e há uma igreja, um padre, uma ou mais bandas filarmónicas, um ou mais cafés”.

E muitas, muitas tradições. Em São Miguel, encontrou vários romeiros da Quaresma, assistiu à procissão dominical do Irró (a festa dos pescadores de Vila Franca do Campo). Em São Jorge, participou em bailes regionais de arreigada tradição. Na Terceira, visitada já em pleno Verão, as terras fervilhavam de festa: chegou no último dia das Sanjoaninas, assistiu ao Bodo de Leite nas Fontinhas e acompanhou as festividades do Divino Espírito Santo, com direito a cantares ao desafio e touradas à corda.

Fenómeno social na Terceira de Maio a Outubro, chegam a ser organizadas três e quatro touradas à corda ao mesmo tempo. “Uma hora e meia antes já a zona está repleta de gente com barracas de torresmos e homens com baldes cheios de cracas ou lapas a tentar vendê-las. Famílias inteiras posicionam-se nas varandas enquanto a rua e os lugares mais perigosos são ocupados pelos mais atrevidos. Fui duas vezes e fartei-me de correr para tirar fotografias”.


Tranquilidade bucólica de paisagens e vivências

No final do ano passado, um amigo convenceu-o de que, findo o projecto “Portugal a Pé”, “o passo a dar seria tentar os Açores”, um território com o qual sempre teve afinidade e que já tinha visitado por diversas vezes. Partiu, “mal teve disponibilidade”, e percorre agora o arquipélago entre regressos esporádicos ao Continente.

Normalmente chega à localidade mais importante de cada ilha e começa a caminhar para Este ou Oeste. Ao fim do dia, regressa de transporte ao sítio onde está alojado e, na manhã seguinte, retoma o caminho no ponto onde tinha ficado.Sempre a pé e sozinho, para “ir vivenciando o dia-a-dia” dos locais por onde passa, ao seu ritmo, parando quando e onde lhe apetece, sem pressas. “Procuro muito a cultura popular e isso nem sempre está lá à nossa espera. Passo numa determinada freguesia e não está lá o latoeiro ou o cantador que quero entrevistar. Eu espero”.

Em São Miguel, por exemplo, queria sair com uma campanha da pesca do atum, mas “teve de esperar alguns dias até o mar estar em condições” e “depois meteu-se uma viagem breve do mestre ao Continente”. Contudo, a espera acabou por compensar e pôde acompanhar o barco “Ponta dos Mosteiros” e os seus homens num dia de faina. “O mais impressionante é quando começa a pescaria: a vozearia dentro do barco, o esforço para puxar um atum de 160 quilos para dentro do convés. É tudo muito frenético. E é muito duro. Regressámos às 20h e no dia seguinte a tripulação voltava ao mar à mesma hora [3h]”.

São muitas as histórias de vida que vai encontrando e guardando em memória no blogue, no Café Portugal ou na revista Epicur: músicos, cantadores, poetas populares, antigos baleeiros, pescadores, agricultores e muitos artesãos cuja arte vive à beira da extinção. Em São Miguel encontrou um dos últimos albardeiros da ilha; em Santa Maria passou por uma família de antigos moleiros; na Terceira já só restam dois construtores de violas, o último latoeiro. “Caminho para encontrar essas pessoas, que são quem molda a nossa identidade e cultura”.

E por entre um encontro e outro, muito andarilho, muita paisagem. E muito suor. Até agora “o mais difícil” foi a humidade e o calor do Verão da Terceira e de São Jorge, numa meteorologia açoriana já de si de humores imprevisíveis, com chuva, vento e nevoeiro. Mas o esforço é geralmente recompensado por vistas idílicas e lugares surpreendentes. A “beleza lunar” do Algar do Carvão na Terceira, a “tranquilidade bucólica do interior de Santa Maria e a disposição espaçada das casas marienses entre o verde”. Em São Jorge, a Fajã dos Vimes, a Fajã dos Cubres e a Caldeira de Santo Cristo. “É provavelmente um dos locais mais mágicos que visitei até agora”.

Fica a dica: “De todas as fajãs de São Jorge, a da Caldeira é provavelmente a mais bonita e especial devido à envolvência muito verde, à lagoa, ao contraste entre o marulhar do mar e a calmaria da lagoa. As casas são em pedra e poucas, cercadas pela montanha muito verde e as nuvens estão sempre em movimento lá por cima. E por perto, na serra, há uma cascata imperdível”.

A viagem de Nuno Ferreira prossegue agora, com o caminhante a continuar a calcorrear o mundo de contrastes quase inalterados do arquipélago. E depois do continente e dos Açores, Madeira? Para já, Ferreira mantém-se “ainda muito embrenhado na travessia açoriana”, mas, entretanto, em entrevista a um jornal madeirense já avançou “que um dia gostava de fazer o mesmo na Madeira”.

___
Blogue | Facebook | Café Portugal

--%>