Quase a flutuar, dirigimo-nos agora, a pé, para a Croisette. São cinco minutos a andar pelas ruas iluminadas de Courchevel, a pensar que esta pode muito bem ser uma vila de eterno Natal. O coração da estação está a bombar: hoje há “Verdons at night”, que é como quem diz, pistas abertas entre as 18h e as 20h. São 18h52 e estão 12 graus negativos — desde que aqui chegámos nunca sentimos tanto frio. A caneta, gelada, não desliza no bloco de notas.
Quem domina essa ciência complexa que é o esqui garante que esquiar à noite “dá ainda mais pica” — tradução livre das palavras de Jean Christophe, que encontramos no fim da pista com um genuíno sorriso de satisfação. Veio de Paris com os amigos, trata o esqui por tu, mas só hoje se estreou na modalidade nocturna. “C’est super, super!”, comenta. Pede desculpa “por ser tão indelicado” e toma de novo a gôndola. “Ainda tenho tempo para mais uma descida”, justifica-se.
Ficamos mais uns minutos a observar o belo espectáculo que é este esqui nocturno. O céu está escuríssimo, o que faz sobressair ainda mais o branco, branquíssimo, da neve, que brilha sob os holofotes da pista. E agora, num acto irreflectido, que lamentaremos daqui a nada, decidimos tomar a mesma gôndola que grupos esquiadores usam para subir a montanha.
Com companhia, a subida custa menos e até se consegue apreciar a beleza crua e a imponência da montanha. Só lá em cima percebemos que toda a gente vai descer a esquiar e que ficaremos praticamente nós e o medo. Há dois ou três grupos de esquis nos pés — mas ninguém para apanhar boleia da gôndola. Estamos sozinhos, numa gôndola gelada a esta hora — o relógio marca 19h27 quando começa a descida.
Fechamos os olhos com força e tentamos esquecer-nos que estamos sós, a uns bons metros do solo e do topo das árvores cobertas de branco. Algures, alguém estará a rir-se com vontade: a banda sonora dentro da cabina não podia ser mais adequada. “I’m on the highway to hell.”
São sete penosos minutos até alcançarmos terra firme. Cai uma espécie de chuvinha cristalizada, faz um frio dos diabos e de repente temos a visão que há muito procurávamos. Chama-se Christophe, é da zona de Bragança e trabalha no hotel. Hoje está ao volante da navette que nos há-de levar ao porto seguro que é La Sivolière.
Quem disse que não há super-heróis?
Guia prático
Como ir
Há várias opções para chegar a Courchevel. Uma delas é voando para Lyon (cerca de 200 quilómetros de distância); a outra é por Genebra (135 quilómetros). A TAP tem voos para ambas as cidades, com preços a partir de 148 euros para Lyon e de 220 euros para Genebra. Em ambos os casos, será sempre preciso um transfer do aeroporto para a estância, mas muitos dos hotéis da região asseguram esse serviço.
La Sivolière
Rue des Chenus
73120 Courchevel 1850
Tel.: 0033 (0) 4 79080833. www.hotel-la-sivoliere.com
Aberto até 14 de Abril.
Dispõe de 24 quartos, 11 suites e dois apartamentos. Tem também serviços exclusivos para crianças, no âmbito do serviço Mini Sivo. Entre outros mimos (como uma recepção especial para os mais novos), tem oficinas de chocolate ou de perfumes, um restaurante específico para crianças e este ano apresenta uma novidade: os lanches da tarde acontecem num igloo situado perto do hotel. Las but not least: La Sivolière é um hotel amigo dos cães, tendo também serviços específicos para estes animais.
Preços: quarto clássico a partir de 505€ (para uma pessoa), quarto superior a partir de 890€ (duas pessoas), suite deluxe a partir de 1710€ (duas pessoas), apartamento duplex para seis pessoas, com cozinha, a partir de 4430€. Há mais tipologias de alojamento disponíveis.