Além das condições atmosféricas adversas, foi também nestas regiões que encontrou mais lixo ao longo da estrada. “Apesar de não viver lá ninguém, como são estradas principais, passam muitos condutores que deitam garrafas de água para fora da janela, sacos de papel, sacos de plástico”, critica. Só voltou a encontrar tamanha poluição na capital francesa, que, aliás, detestou. “Fiquei em Paris cinco dias e foi uma experiência terrível, havia lixo em todo o lado”. “São tão românticos mas não têm regras e podem fazer o que quiserem!”, defende o viajante. O contraponto absoluto? A vizinha Alemanha, que, sublinhe-se, foi o país que mais gostou de conhecer. Não só têm estradas “muito boas para os ciclistas”, como têm “muitas regras e a maioria das pessoas segue as regras, ninguém pode fugir”.
Ao longo de seis meses foi conhecendo as culturas e os costumes de cada país, registando as mudanças na paisagem e recolhendo informação, fotografias e vídeos sobre a poluição e a utilização das energias renováveis em cada região. Pelo caminho, 15 mil quilómetros pedalados e muitas amizades feitas. “No último dia em que estive na Rússia, um senhor passou por mim de carro, parou, e começou a conversar comigo em russo. Eu não percebia nada, mas convidou-me a ir a casa dele e conhecer o filho, que falava muito bem inglês. Conversámos a noite toda, ofereceram-me bebidas, jantar e no final convidaram-me para passar a noite na casa deles”, conta. “Atravessei nove países europeus e conheci muitas pessoas locais, são muito simpáticas. Agora continuamos a manter contacto”.
Da Sines do roubo à Sines de que Feng gosta. E de uma nova bicicleta
E assim foi Feng atravessando parte da China, a Rússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Alemanha, França e Espanha. Em Portugal, Lagos e Sagres. Até chegar a Sines, fatídica Sines.
Na última noite de estada na terra onde nasceu outo senhor dos mares, Vasco da Gama, roubaram-lhe a bicicleta. “Deixei-a na garagem do hostel onde fiquei e no dia seguinte descobri que tinha desaparecido”. A queixa na polícia só originou largas horas à espera e um documento, que ainda hoje, diz, guarda como “recordação”.
Ainda assim, apesar do incidente, Feng não guarda rancor da alentejana Sines. Pelo contrário, elege-a como a sua cidade preferida. “É uma típica vila portuguesa, com casas e vistas bonitas e um peixe fantástico”, destaca.
No entanto, a tal bicicleta, tatuada com 15 mil km de caminhos e muitos autocolantes chineses, nunca mais apareceu. Nem mesmo depois de um grupo de portugueses se juntar no Facebook para gritar “Devolvam a bicicleta ao chinês”, até com certo estrondo mediático.
Como o grito não surtiu efeito, a mesma empresa portuguesa que teve a iniciativa de fundar o grupo (a Pepper - Brand Taste) decidiu ofereceu-lhe uma bicicleta novinha em folha (feita pela portuguesa Órbita). Chegou há poucos dias a Kunming, às mãos de Feng, juntamente com muitos produtos portugueses – entre fotografias de Sines, kit Festival Músicas do Mundo enviado pela autarquia sineense, chocolates, compotas, conservas e, entre mais mercês, até um galo de Barcelos que um português emigrante na Holanda obrigou a mãe entregar para contribuir para a iniciativa.