No limbo entre o abandono e a ruína
Há pois um longo caminho a percorrer, e enquanto esse percurso não é feito, a arquitectura popular desta e doutras regiões “está numa espécie de limbo entre o abandono e a ruína”, nota Fernando Barros, ao guiar já uma segunda visita da Fugas, conduzindo-nos, desta vez, a uma outra branda totalmente diferente da de Cando, na encosta oeste do Parque Nacional e no vale do Rio Vez. Trata-se do Alhal, uma branda de cultivo de centeio e de pastos, com um povoamento já muito mais disperso, e com a maioria das construções próximas da ruína, mas também do seu figurino primitivo. As casas são a reprodução das da aldeia (do Padrão), mas em ponto pequeno e muito mais simples. Mantêm ainda incólumes a pureza original, com a simplicidade da pedra sobre a pedra, respirando-se no interior de alguns dos abrigos (ou cortelhos) uma atmosfera quase sacra.
No percurso entre as dezenas de brandas – onde as vacas e os rebanhos (estes agora em número bem mais reduzido) continuam a ser reis –, o visitante desfruta também de uma paisagem única. Seja a das encostas e afloramentos rochosos da natureza selvagem do Parque Nacional, sejam os socalcos trabalhados e cultivados do vale do Vez, uns e outros agora ornamentados pelas cores violeta da urze e amarela das maias.
E, a cada curva da estrada, pode ser surpreendido com a arquitectura histórica e erudita de um Paço de Giela (Monumento Nacional desde 1910), com a sua torre do século XIV e edifício com janela manuelina do século XVI. Encontra-se em deplorável estado de conservação, a ruir aos bocados, mesmo se o município, que o adquiriu em 1999, tem vindo a tentar encontrar meios de o recuperar para o usufruto colectivo. Ou de um castelo oitocentista como o de Sistelo, um palácio revivalista mandado erigir por um bem-sucedido brasileiro torna-viagem, também em ruínas, mas que a junta de freguesia comprou e promete recuperar. Ou ainda a Torre de Aguiã (Imóvel de Interesse Público desde 1978), ainda habitada – aí se produz o vinho verde tinto da casta vinhão/Aguião –, mas a precisar de premente atenção patrimonial.
Nos percursos sugeridos pelo Turismo de Arcos de Valdevez (ver caixa), podemos ainda encontrar a arquitectura funerária das nove mamoas do Mezio, agora recuperadas, e associadas ao Centro de Interpretação do Parque da Peneda-Gerês (numa das cinco portas do Parque Nacional existentes em cada um dos cinco concelhos por que ele se estende), que congrega um inesperado parque lúdico e temático estilo “Portugal dos Pequenitos”.
E como “entre a arquitectura popular e a arquitectura erudita não existem fronteiras precisas: as casas populares, as grandes casas de lavoura e os solares rurais partilham um vocabulário de formas, de proporções e de materiais” – como escreve Manuel C. Teixeira no livro atrás citado –, o cruzamento destas expressões do edificado continuam a ser uma marca do território dos Arcos de Valdevez. E que vale bem a pena visitar.
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Informações
Centro Municipal de Informação e Turismo
Rua do Prof. Mário Júlio Costa
Tel: 258529045
E-mail: postoturismo.arcosdevaldevez@gmail.com
Os serviços de Turismo aconselham três roteiros diferenciados para a visita ao património da região: o primeiro entrando dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, até à Senhora da Peneda e à Branda de Bousgalinhas (100 kms. e 5-6 horas de percurso); o segundo percorrendo as duas margens do Rio Vez até à aldeia de Sistelo (52 kms.; 3 horas); e a terceira, para ocidente, até às localidades de Jolda e Miranda (43 kms.; 2 horas). O ponto de partida pode muito bem ser na vila, na marginal urbana do Vez, o monumento de José Rodrigues evocando o histórico Recontro de Valdevez (1141), uma espécie de torneio medieval de caval(h)eiros entre Afonso Henriques e o seu primo Afonso VII de Castela e Leão, que anteciparia a independência do Condado Portucalense – a obra é popularmente conhecida na terra como “o monumento dos cavaleiros sem pernas”.