Fugas - Viagens

  • Nuno Alexandre Mendes
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Um safari na Beira Alta

Na Guarda, a mais de 300 quilómetros de Lisboa e a 200 quilómetros do Porto, espera-nos o sorriso de Alice Gama, a coordenadora de projectos da ATN que há-de ser a nossa guia. Ao volante do jipe, conduz-nos pela estrada nacional paralela à auto-estrada 25, esta cada vez mais vazia por causa das portagens.

Após poucos minutos de viagem, uma primeira paragem para almoço, que a barriga já dá horas. Saímos da estrada e metemos por um caminho que leva à ribeira das Cabras. À nossa frente, um grande lago, cheio pelas chuvas de Abril, emoldurado pelo arvoredo. A toalha do piquenique carinhosamente preparado com comida caseira é estendida no chão, à sombra generosa de um freixo. Sentados ao sol e a ouvir pouco mais que o coaxar das rãs, apetece-nos parar o tempo, como se ali fosse possível. Parece, mas não é. Temos 80 quilómetros pela frente.

Arrancamos com destino à freguesia de Algodres, onde a ATN adquiriu as primeiras propriedades da reserva, em 2000. “No início houve desconfiança, ninguém sabia bem o que estávamos a fazer aqui”, admite a coordenadora da ATN. Com o tempo isso mudou e hoje a associação está integrada na comunidade local. As poucas pessoas que vamos encontrando pelo caminho, desde Algodres até Vale de Afonsinho, onde fica a entrada sul da reserva, levantam a mão em jeito de cumprimento assim que vêem o jipe.

A reserva nasceu com o objectivo de proteger o abutre-do-Egipto, ameaçado de extinção, e a águia-de-Bonelli, que nidificam nas escarpas do Vale do Côa. Mas em 2003, depois de um incêndio que devastou parte da reserva, a associação passou a dedicar mais atenção também à gestão florestal. 

É aqui que entram os animais selvagens. “Usamos o cavalo garrano para abrir clareiras, o que antigamente era feito pelos rebanhos”, exemplifica Alice Gama. A estratégia, baseada no conceito do projecto Rewilding Europe, desenvolvido pelo World Wildlife Fund entre outras organizações, passa por deixar que a natureza “tome conta de si mesma”, num modelo de gestão passiva, dando condições às espécies para que estas se fixem nos territórios.

A ATN gere o mosaico agro-florestal, cultivando cereais como o trigo e o centeio, que aumentam o alimento disponível para as presas das aves de rapina, como o coelho e a lebre, a perdiz vermelha, entre outras. Também recupera cursos de água e monitoriza as áreas de nidificação no vale, para garantir que as espécies se reproduzem e sobrevivem. “É a gestão mais barata que existe”, diz a coordenadora.

Encontros imediatos

Dentro do jipe não há vento (e que ventania lá fora…), nem frio, nem se cansam as pernas. Vamos aos saltos no banco à medida que o Land Rover, com a tracção às quatro, vai subindo caminhos de cabras inclinados, atropelando pedregulhos e furando por entre a vegetação. Enquanto conduz, Alice Gama descodifica a paisagem, marcada por hectares de oliveiras, azinheiras e sobreiros. Ficamos mais tarde a saber que um dos ex-líbris da reserva é um enorme sobreiro com mais de 500 anos, classificado de interesse público, de tronco grosso e ramos fortes. É o maior ponto de interesse do Trilho dos Sobreiros, um dos vários percursos organizados pela ATN (ver caixa).

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