Fugas - Viagens

  • Nuno Alexandre Mendes
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Um safari na Beira Alta

O sol põe-se atrás de nós e a luz que bate nos troncos das árvores mortas — encontramos muitas pelo caminho — parece dar-lhes uma segunda vida. Arrefece, mas vamos com o sentido na garagem do senhor Henrique, que encontramos aquecida pela salamandra a lenha. A mesa está posta e não nos falta nada: vinho caseiro, uma sopa quente com os legumes da horta, carne tenra com arroz e até há bolo de bolacha, tudo feito com amor pela dona Maria da Conceição. Sobre a “sua Maria”, o senhor Henrique fala com orgulho. Estão juntos há uns 30 anos e não se largam nem no trabalho, ele ao balcão, ela na cozinha sempre que é preciso.

Ginjinha ao luar

Custa-nos sair da garagem (enquanto lá estivemos, ouvimos a chuva cair lá fora) mas fazemo-nos ao caminho de volta à reserva. “Ninguém leva lanternas”, avisou Alice Gama antes de sairmos. Contávamos com a luz generosa da lua cheia para nos alumiar o caminho mas São Pedro trocou-nos as voltas. As nuvens taparam o céu. Mesmo assim, enfrentámos a escuridão. Custou mais porque não víamos as poças de água no chão (ganha forma a expressão “meter a pata na poça”), mas fomos bravos, atrás da guia.

Na reserva, esperava-nos um céu estrelado — com estrelas cadentes, daquelas que não se vêem em Lisboa. Pouco depois, a lua cheia nasceu ali mesmo à nossa frente. Parece que os astros se alinharam para nos fazer esquecer dos pés gelados — mas para isso tínhamos levado a ginja de Óbidos (não faz parte do programa), mais eficaz. A garrafa ficou a meio. Bom, éramos seis e tínhamos frio.

As tendas meteram água, é verdade, mas nada que atrapalhasse o sono. A alvorada era às 7h, tinham-nos prometido um despertar barulhento se não fosse a bem. Não foi preciso. O nascer do sol, mesmo em frente ao acampamento, e o céu sem nuvens convencem qualquer um a sair da tenda. Mas os mimos não se ficam por aqui. O pequeno-almoço tomado na mesa de madeira à sombra de uma árvore aquece até a alma. Café acabado de fazer, doce de amoras artesanal (com amoras inteiras, mesmo!), mel de rosmaninho, doce de figo preto, pão fresco. E a cama de rede presa a duas árvores, debaixo dos raios de sol que começam a aquecer. Temos mesmo que ir embora?

O relógio — sobretudo o biológico, das aves — não perdoa: é pela manhã que estão mais activos os pássaros que queremos ver de perto. Saímos às 8h armados de binóculos, prontos para aguçar o olhar e detectar movimento nos ramos das árvores. Rodeados de rosmaninhos em flor e por entre a vegetação rasteira e farta, seguimos a guia. Os percursos habituais de birdwatching demoram sete horas mas a nossa versão é mais curta: por volta das 11h temos de sair para estar na estação da Guarda a tempo de apanhar o comboio de regresso a casa, ao final da manhã.

Chegados a uma clareira num vale, perto de um charco, paramos de olhos postos no céu e nos pontos pretos que vão andando em círculos pelo ar. Atinamos com os binóculos e vemos os abutres-do-Egipto, ou britangos, os grifos (há 50 casais residentes na reserva), até um casal de corvos apareceu para nos cumprimentar.

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