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Astúrias, naturalmente íntimas e pessoais

Por Luís J. Santos

Fomos ferreiros, cozinhámos, tornamo-nos pixuetus por paixão, vimos lulas gigantes, passeamos numa praia-poema. Um passeio por recantos das Astúrias Ocidentais entre montanhas, vales e mar à descoberta das suas gentes.

Os dedos do músico iniciam o seu dedilhar e percorrem, hipnotizantes, as cordas da guitarra. É um esvoaçar que vai agregando belezas, incorrendo em brusquidões, acalmando subitamente, ondulando em reticências. E de súbito recupera o voo e o nosso olhar entra em panorâmicas pela memória destes dias. A música torna-se terra, mar e céu. É ela própria o nosso serpentear por montanhas que se elevam como deuses e vales em vertigem pura, por aldeias e aldeolas que se aninham, por estas Astúrias Ocidentais que se hasteiam, naturalmente íntimas, por entre um mar vegetal avassalador e um mar recortado a escarpas abruptas.

“Tem um tom andaluz mas é Astúrias”, diz-nos Reinhold Bohrer, músico alemão com muitos anos de Espanha e que trocou Madrid — juntamente com a esposa, Patrícia, e os filhos — pela “paz” do campo. Chama-se mesmo "Astúrias (Leyenda)", esta peça criada por Isaac Albéniz nos finais do século XIX. Aqui, onde agora a ouvimos ao vivo, assume contornos de ascensão. Reinhold interpreta-a em concerto íntimo para três hóspedes no salão do seu “hotel musical”, uma antiga “casona” em pedra, a Cantiga del Agueira, com menos uns dois séculos que o tema de Albéniz, em Pumares, Santa Eulalia de Oscos, onde estamos cercados por uma exuberante natureza de vale, montanha, bosques e toda uma área classificada como Reserva da Biosfera pela UNESCO. “Olhamos pela janela e temos o verdadeiro luxo. Vemos como muda a vegetação, como mudam as cores. Espreitas pela janela de manhã e já acordas a exclamar ‘uau!’”. Patrícia fala das janelas da sua “casona”. Mas poderia estar a falar de todas estas Astúrias que agora calcorreamos.


Amor à primeira vista


Há momentos assim numa viagem. Ainda mal aterramos e já, de súbito, o destino nos agarra e, num piscar de olhos, nos conquista para toda a vida. Deu-se este caso logo após menos de duas dezenas de quilómetros a conduzir do aeroporto asturiano à costa. Íamos nós muito bem absorvendo as primeiras paisagens desta região do Norte de Espanha quando começamos a descer para o mar, poderoso íman cantábrico. Numa linha só, a ladear o mar, primeiro um portinho de pesca, onde vingam ainda hoje as práticas artesanais, uma primeira paragem do automóvel e um aviso: “Esperem, esperem, já vão ver como é impressionante, só se vê a terra quando já se está nela”, diz-nos Onofre, o nosso guia do Turismo das Astúrias.

Subitamente, surge no seu esplendor o quadro vivo que é o anfiteatro de Cudillero, pueblo piscatório com o seu casario colorido emaranhado pelas encostas dos montes. O facto de lhe chamarem anfiteatro é lógico, já que temos direito a um verdadeiro espectáculo, sublinhado pelas múltiplas cores vivas usadas nas fachadas. Cudillero sobe a partir da praça principal, repleta de restaurantes e esplanadas com especialidade óbvia: peixe e mais peixe e mais marisco. “Os peixes saltam do barco para aqui e daqui para as mesas”, há-de contar-nos o senhor Demetrio da peixaria homónima na praça. Aos 72 anos, conversador, pescador e peixeiro (“reformado”, “os meus filhos é que foram para aí jogar às cartas”) mostra os seus peixes como jóias. “Salmonetes, pescada, robalos, … tudo!”.

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