Fugas - Viagens

  • Na Universidade de Coimbra, espreitando a Sala dos Capelos
    Na Universidade de Coimbra, espreitando a Sala dos Capelos Dato Daraselia
  • Biblioteca Joanina
    Biblioteca Joanina Dato Daraselia
  • Entrada da universidade
    Entrada da universidade Dato Daraselia
  • Na Universidade de Coimbra
    Na Universidade de Coimbra Dato Daraselia

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Os encantos da Universidade de Coimbra na hora do Património da Humanidade

Momentos antes, à saída da Capela de São Miguel, onde tínhamos estado a admirar o impressionante órgão do século XVIII que só pode ser tocado pelo organista Paulo Bernardino ou por quem ele autorizar, e o balcão para a família real mandado construir pelo Marquês de Pombal, encontráramos Ricardo, estudante de Antropologia, vestido a rigor, de capa e batina. Catarina pede-lhe um instante e aproveita a oportunidade para mostrar aos visitantes o que significa o traje académico de Coimbra, com origem nas vestes eclesiásticas e cuja utilização respeita regras muito rígidas. A capa, por exemplo, deverá tocar o chão, os rasgões que tem em baixo devem ser feitos com os dentes (um deles significa que o aluno tem namorada e se a relação terminar ele terá que coser o rasgão), e as insígnias bordadas têm diferentes significados.

O grupo de brasileiros vindos de Cantanhede, no estado do Maranhão, que está a fazer esta visita com Catarina Freire, e o director-adjunto da Biblioteca Geral da Universidade, António Eugénio Maia do Amaral, pede para tirar fotografias ao estudante trajado a rigor, antes de seguirmos caminho pela Via Latina, o pórtico no Norte do Pátio das Escolas onde, no passado, só se podia falar em latim. Mas essa é uma tradição definitivamente perdida, já que hoje na Via Latina se ouvem todas as línguas faladas pelos muitos turistas que visitam a Universidade.

Tínhamos começado a visita pela Porta Férrea, que dá acesso ao Pátio das Escolas, exactamente no mesmo local da antiga porta-forte da alcáçova mandada construir por Almançor depois da reconquista da cidade pelos muçulmanos, em 987. Entramos no Pátio das Escolas, deixando para trás os edifícios universitários construídos já durante o Estado Novo a partir de projecto do arquitecto Cottinelli Telmo, e que mudaram radicalmente o perfil, até então medieval, da chamada Alta de Coimbra - que, juntamente com a Universidade e a Rua da Sofia (construída no século XVI e onde se localizavam antigamente os Colégios Universitários), faz parte do conjunto classificado pela UNESCO.

Parceria com os morcegos

Começamos a visita por um dos seus momentos altos: a Biblioteca Joanina, mandada fazer no início do século XVIII por D. João V, e, lê-se num folheto, "reconhecida como a mais sumptuosa biblioteca universitária jamais concebida e obra-prima do barroco europeu". Havia pedidos para a construção de uma biblioteca que permitisse guardar os livros em condições desde o século XVI, conta Maia do Amaral. O projecto - "uma ideia do rei, mas paga pela Universidade" - avançou finalmente no século XVIII e foi construído com rapidez, integrando logo novos livros, porque o monarca queria que "o ensino se abrisse às novidades".

"Está construída quase como se fosse uma igreja, com o retrato do rei ao fundo, como se estivesse num altar. A tendência dos visitantes quando entram aqui é começar logo a falar baixinho", conta Maia do Amaral ao grupo de brasileiros. Catarina Freire acrescenta que o ouro que vemos na decoração veio do Brasil, de Minas Gerais, e que as madeiras são africanas, orientais e brasileiras.

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