Fugas - Viagens

  • Na Universidade de Coimbra, espreitando a Sala dos Capelos
    Na Universidade de Coimbra, espreitando a Sala dos Capelos Dato Daraselia
  • Biblioteca Joanina
    Biblioteca Joanina Dato Daraselia
  • Entrada da universidade
    Entrada da universidade Dato Daraselia
  • Na Universidade de Coimbra
    Na Universidade de Coimbra Dato Daraselia

Continuação: página 3 de 3

Os encantos da Universidade de Coimbra na hora do Património da Humanidade

Manter um local como este exige cuidados especiais e não podíamos sair daqui sem contar a história da colónia de morcegos que há séculos vive dentro da biblioteca, que ajuda a preservar, alimentando-se dos insectos que poderiam destruir os livros. "Existe uma parceria", diz Catarina. "Os funcionários trabalham de dia, os morcegos de noite. Estão totalmente adaptados a este ecossistema, e existem orifícios de saída que lhes permitem ir ao exterior beber água." A única preocupação é com as magníficas mesas de madeira, que têm que ser cobertas com lençóis de couro - a nossa guia ergue um no ar para nos mostrar - para as proteger da acidez dos dejectos dos morcegos.

Depois de um dos visitantes brasileiros perguntar se poderá existir na biblioteca uma edição do final do século XIX do Pantheon Maranhense, de António Henriques Leal, e Maia do Amaral se comprometer a procurar no final da visita entre o milhão e meio de livros do catálogo geral, seguimos por um corredor estreito que dá acesso a outra sala usada para exposições temporárias e actualmente ocupada pela mostra Do Sul ao Sol, que conta a história da relação dos portugueses com o Oriente.

E, dos livros e objectos que relatam esse encontro, passamos para o espaço menos nobre da prisão académica, com as suas celas individuais, e a colectiva, com as latrinas em lugar de destaque. Era aqui que se detinham estudantes, professores e funcionários, dado que a Universidade tinha o seu próprio sistema de justiça, que excluía apenas os crimes mais graves e que era garantido pelos archeiros. Estes deixaram de ser uma força policial mas não desapareceram - Catarina chama-nos a atenção quando um deles passa por nós no interior da capela - e continuam a exercer funções de guardas.

São também eles, como os estudantes de capa e batina que se cruzam com os turistas; como as solenes cerimónias de doutoramento; o maltratado azulejo da raposa; a torre que os estudantes baptizaram como A Cabra porque de manhã tocava 15 minutos seguidos; o púlpito na capela de onde o Padre António Vieira proferiu o último discurso antes de ser preso pela Inquisição; os balcões no alto das salas de aula para o reitor espreitar; as serenatas monumentais que não podem ser aplaudidas; as muitas histórias que os livros contam, ou a colónia de morcegos que voa pela Biblioteca Joanina no silêncio da noite - são, dizíamos, todos eles parte fundamental deste património vivo da Humanidade que é a Universidade de Coimbra.

--%>