Fugas - Viagens

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  • Chiang Mai é uma cidadezinha de província, é verdade, mas à escala justa para atalhar o tédio
    Chiang Mai é uma cidadezinha de província, é verdade, mas à escala justa para atalhar o tédio Humberto Lopes
  • Os templos são uma das principais atracções tanto de Chiang Mai como de Chiang Rai
    Os templos são uma das principais atracções tanto de Chiang Mai como de Chiang Rai Humberto Lopes
  • Humberto Lopes
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  • Rio Mekong
    Rio Mekong Humberto Lopes

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Na Tailândia, seguindo os passos de Fernão Mendes Pinto

O Rapid Train parte a meio da tarde e aportará a Chiang Mai pouco depois do amanhecer. Antes de passarmos por Phitsnanulok (“Passiloco”, na Peregrinação), já noite escura, avistaremos durante a tarde panoramas não muito distintos dos relatados por Fernão Mendes Pinto. Cedo se nos põe diante dos olhos um cenário de aldeolas com casinhas de madeira perdidas no meio da vegetação e extensos arrozais. A maior parte deste reino, lê-se na Peregrinação, “é de terras baixas em que há muitas campinas lavradas e rios de água doce, e, por isso, é muito fértil e abastada de mantimentos…”.

O comboio anda aos ziguezagues entre colinas, e uma ou outra vez conseguimos divisar, ao longe, formações montanhosas. O quadro descrito na Peregrinação irrompe na memória do viajante, que vê desfilar a paisagem subtropical do antigo reino do Sião: “Nas partes altas tem arvoredos espessos de muita madeira de Angelim de que se podem fazer milhares de navios de toda a sorte.” O relato insistia muito nas abundâncias locais, na “grandeza, abastança, riqueza e fertilidade que vi neste reino”.

Ao longo do caminho, em cada estação, vendedores de comida cativam os passageiros com refeições quentes, fruta e bebidas. A partir da madrugada, as paragens são mais tranquilas. Logo aos primeiros sinais de luz do dia apercebemo-nos da proximidade das montanhas e dos vales imersos em farrapos de neblina matinal. Estamos atrasados, o que nos permite desfrutar um pouco mais da paisagem da província de Chiang Mai, já em pleno território do antigo reino de Lannat’ai, um reino independente que acabaria por ser integrado no Sião.

Pelas ruas da cidade

No trajecto da estação até ao centro, feito num tuk-tuk, descobre-se um forte contraste com a insana Banguecoque. Chiang Mai, a segunda cidade do país, é o oposto, uma cidadezinha de província, é verdade, mas à escala justa para atalhar o tédio e compensar os viajantes que chegam em busca de expressões da cultura do país: as massagens, a meditação budista, os templos, etc. Muitos estrangeiros vêm frequentar cursos de língua tailandesa, de culinária e de meditação, ou assistir a espectáculos de música e dança tradicionais, o que faz de Chiang Mai uma espécie de Meca muito heterogénea e, como se aclama na panfletária turística, uma (meritória) capital cultural da Tailândia.

A configuração urbana é marcada por canais que delimitam o centro histórico, onde, a par de reminiscências das muralhas de um reino que, tributário do Sião, se viu frequentemente assediado pelos vizinhos birmaneses, se acham inúmeros templos budistas de estilo local, herdeiro da cultura Lanna. O centro é facilmente calcorreado a pé, ainda que para os templos mais distantes seja útil ter um tuk-tuk à mão. As jornadas pedestres propiciam a intimidade com o burgo e a percepção de uma clivagem entre zonas mais ostensivamente tomadas pelo turismo, como a da rua Moon Muang, com os seus bares e restaurantes, e as sempiternas casas de bugigangas “típicas”, e outros quarteirões mais populares, com o seu pequeno comércio de tudo e mais alguma coisa. Por toda a parte tropeçamos com as rót khén, bancas de fruta e de batidos, tão características da Tailândia e do Sudeste Asiático, lenitivos para os efeitos do calor e da humidade. Para rematar o pitoresco do cenário – e lembrando a face obscura do tráfico humano das redes de prostituição, que na Tailândia atinge proporções trágicas –, damos com avisos como o estampado na Rua Ratchaphakhinai, artéria de muitas guesthouses e (honestíssimas) casas de massagens, a esclarecer turistas baralhados: “Only massage, no sex”. Em certas secções da turística Kotchasan, do outro lado do canal da Moon Muang, o aviso ficaria igualmente bem, mas com os seus termos trocados... 

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