Fugas - Viagens

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  • Chiang Mai é uma cidadezinha de província, é verdade, mas à escala justa para atalhar o tédio
    Chiang Mai é uma cidadezinha de província, é verdade, mas à escala justa para atalhar o tédio Humberto Lopes
  • Os templos são uma das principais atracções tanto de Chiang Mai como de Chiang Rai
    Os templos são uma das principais atracções tanto de Chiang Mai como de Chiang Rai Humberto Lopes
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  • Rio Mekong
    Rio Mekong Humberto Lopes

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Na Tailândia, seguindo os passos de Fernão Mendes Pinto

Pérola da cultura Lanna

Na cidade e arredores há umas três centenas de edifícios religiosos, cuja arquitectura data dos tempos do reino de Lannat’ai, o que significa que alguns remontam à época em que Fernão Mendes Pinto viveu no Sião. Os templos, dispersos pela malha urbana, têm particularismos que os distinguem de outros da Tailândia, como a predominância doschedis (as stupas budistas) de base octogonal, com rica ornamentação em madeira esculpida e mosaicos coloridos.

O mais antigo santuário budista de Chiang Mai é o Wat Chiang Man, que data de finais do século XIII, verosimilmente do tempo da fundação da cidade. A stupa, de cúpula dourada, tem na base, a toda a volta, fileiras de elefantes esculpidos em pedra, sobre os quais parece assentar. O templo é bem representativo da arquitectura Lanna, com a fachada em madeira cinzelada com motivos geométricos, ilustrados a ouro. Guarda a que é tida como a mais antiga imagem de Buda de Chiang Mai.

Há outros templos nas imediações, como o Wat Chedi Luang, cuja stupa está meio arruinada, supõe-se que em consequência de alguma guerra, possivelmente no século XVI, como aquela em que participou Fernão Mendes Pinto. Foi dali que foi levado para Banguecoque, para o Wat Phra Kaew, o célebre Buda da Esmeralda. Conserva-se uma representação de um Buda deitado, figura que Fernão Mendes Pinto encontrou também no Martavão e à qual se referiu como sendo a do “deos do dormir”.

A uns quinze minutos a pé há outra visita imprescindível, a do templo Wat Phra Singh, jóia da coroa da arquitectura Lanna. É dos mais antigos edifícios religiosos do norte do país, datado de meados do século XIV, dois séculos antes da passagem de Fernão Mendes Pinto pelo Sião. Descrever a arquitectura do Wat Phra Singh e de outros templos do budismo theravada, a religião de 95% da população tailandesa, requer um bom punhado de páginas. Pinto fê-lo com minúcia, espanto e admiração. E, parece, com a intenção simultânea de realçar a complexidade e o fausto da civilização que ali foi encontrar, tão ou mais sofisticada que a europeia.

A pouca distância da cidade encontramos um dos templos mais importantes do Norte da Tailândia, o Wat Phra That Doi Suthep. Chegamos lá a bordo de um sorngtaaou, um táxi colectivo. Após a subida, sinuosa, há que galgar uma escadaria ornamentada com milhares de mosaicos até ao templo. Ao lado, uma escultura de um elefante branco assinala o carácter sagrado do lugar. Ali se finou, em tempos, um elefante branco que transportava uma relíquia de Buda. Os elefantes brancos do Sião eram animais raros e foram, várias vezes, alvo de cobiça de soberanos da vizinha Birmânia. Abundam curiosíssimas histórias a propósito de elefantes brancos, algumas contadas por Fernão Mendes Pinto e por Sebastião Manrique, um frade agostinho natural do Porto que passou parte da vida no Chatigão (Bangladesh, na actualidade) e deixou uma narrativa das suas atribuladas viagens por terras que pretendia evangelizar.

Além dos cursos de massagens e de meditação, o mercado nocturno é, na geografia da animação da cidade, outro pólo de atracção de turistas, o que faz dele um espaço assaz plastificado. Alternativa salutar é estar com atenção a celebrações normalmente não anunciadas aos viajantes. Os forasteiros, que aí se contam com os dedos de uma só mão, são bem-vindos, numa expressão de espontânea hospitalidade semelhante àquela que Fernão Mendes Pinto constatou e que fez contrastar, subtilmente, com a postura intolerante e evangelizadora do Cristianismo quinhentista. O viajante trânsfuga que se abeire de uma dessas celebrações acaba convidado para um chá e para uma prova da doçaria da festa, com música de fundo interpretada em instrumentos tradicionais, tudo isso sem a algazarra ruidosa e a babilónia de gente do mercado nocturno.

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