Sentei-me logo à entrada, numa mesa junto à televisão onde passava um jogo do Manchester United para a Liga dos Campeões, escolhi um dos cinco bifes do menu, meio litro de cerveja da casa e esperei que me viessem atender.
- Tem que fazer o pedido ao balcão – disse-me o homem da mesa ao lado, percebendo que a minha espera e passividade não me iriam levar a lado nenhum.
Assim foi.
- Em que mesa está sentado?
- Na mesa da entrada junto à televisão.
- Há várias televisões. Qual é o número da mesa?
- Não sei...
- Se não me disser o número da mesa, não lhe posso fazer o pedido.
- Dê-me uma mesa qualquer, então.
- Pode ser aquela logo à entrada, junto à televisão?
Lá voltei à minha mesa, comi o bife, mal passado, tal como pedira, acompanhado de ervilhas e batatas fritas, e vi o que restava do jogo. Ainda estive alguns minutos a tentar perceber se o casal do lado, na casa dos quarenta anos, falava em galês ou inglês, de forma a medir o pulso a uma possível onda nacionalista que se fazia sentir já em 1988, mas como não trocaram qualquer palavra ao longo da refeição, e estando os outros grupos já demasiado lançados para que eu pudesse apanhar a carruagem, decidi ir dormir. O quarto tinha quatro camas, era dia da semana, terça para quarta-feira, e acabei por passar a noite sozinho.
Primeira vez, parte II
Às dez da manhã já estava dentro do estádio. Ficava mesmo ali à minha frente, do outro lado do rio, tinha passado três vezes por ele na noite anterior e tornou-se impossível resistir. Não o Millennium Stadium, substituto do antigo Estádio Nacional, que apesar de ser um dos mais modernos e avançados estádios do mundo é em tudo semelhante a um moderno e avançado estádio em qualquer parte do mundo, mas no rugby ground do mítico Cardiff Arms Park, ali mesmo ao lado do novo. Uma espécie de parente mais velho onde jogam os Cardiff Blues, da histórica Liga Celta (agora chamada de RaboDirect Pro12), competição que inclui doze equipas profissionais da Irlanda, Itália, Escócia e País de Gales.
Foi o homem que trata da relva artificial quem me passou a informação e confirmei de imediato na Internet. Ainda não há muitos anos pesquisávamos na Internet e confirmávamos com as pessoas, agora perguntamos às pessoas e confirmamos na internet. Disse-me também que os Blues estavam de folga, mas que no final do dia haveria jogo. Para aparecer, se quisesse.
Não sei se por sempre ter sido um apaixonado por estádios tipicamente ingleses, se mais uma vez influenciado pela Enciclopédia Geográfica, que diz ser este, “provavelmente, o coração emocional do País de Gales”, a verdade é que por momentos senti que era capaz de ficar ali o dia todo. Logo eu que de râguebi não percebo nada. Só não o fiz por vergonha, por saber que mais tarde nunca perdoaria a mim mesmo ter ficado o dia todo sentado num velho estádio galês a ver um funcionário tratar do relvado sintético, quando um dia, uma tarde, era precisamente tudo o que tinha para visitar a cidade. Antes de sair o homem fez-me mais uma revelação: que a cidade tinha sido eleita Cidade Europeia do Desporto em 2014, estando programados uma série de eventos e competições, entre eles a final da Supertaça Europeia de futebol, algo que considerava muito bom para o turismo na cidade, que tem crescido muito nos últimos anos, sobretudo depois de a revista National Geographic ter considerado a cidade como um dos 10 destinos de Verão para 2011.