Fugas - Viagens

  • A China entrou em novo ano lunar no final de Janeiro
    A China entrou em novo ano lunar no final de Janeiro SHENG LI/REUTERS
  • A celebração da Festa da Primavera em Dàli
    A celebração da Festa da Primavera em Dàli
  • O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
    O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
  • O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
    O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
  • Fuxing Lu
    Fuxing Lu
  • A porta Norte de Dàli é um dos testemunhos arquitectónicos do Império Nhanzao
    A porta Norte de Dàli é um dos testemunhos arquitectónicos do Império Nhanzao
  • O povo Bai
    O povo Bai
  • O calendário chinês baseia-se no ciclo lunar e, por esse facto, a data do Ano Novo varia, fi xando- -se normalmente entre os dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro do calendário gregoriano
    O calendário chinês baseia-se no ciclo lunar e, por esse facto, a data do Ano Novo varia, fi xando- -se normalmente entre os dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro do calendário gregoriano

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China: Que mão pintou tão azul este céu?

Sejam quais forem os passos centrífugos com que o viajante se perca, às voltas por trechos da possante muralha, pelas travessas dos mercados ou pelas ruelas onde os restaurantes expõem os legumes à entrada, à escolha do comensal, a Fuxing Lu, via pedestre de muitas casas com arquitectura riscada na madeira, que atravessa a cidade e liga as portas Norte e Sul (testemunhos arquitectónicos do império Nhanzao), é uma passagem inevitável.

A rua é uma espécie de espinha dorsal do velho burgo, e, ao mesmo tempo, o coração que faz pulsar, ou onde se sente pulsar, o ritmo da multidão, nas suas andanças vitais ou de supérfluo lazer. Um desassossego de gente de câmara fotográfica em riste (o turismo interno chinês cresce a um ritmo assombroso), camponeses de vara funâmbula aos ombros e cestos equilibrados nas extremidades, gente mais idosa concentrada, ao cair da tarde, nos seus exercícios de tai-chi ou em danças populares.

A rua é, enfim, um embriagante sopro de vida: lidas de comércio, visitantes em vaivém, sem bússola, abreviados jardins, um ou outro templo, vozes, risos, cacofonias de músicas dispersas e variadas, movimento. E murmúrios de água sob os passos dos caminheiros, porque de cada lado da via correm uns estreitos canais, alimentados pelas fontes da Montanha Verde. No cruzamento da Renmin Lu, um velho músico toca com delicadeza o seu erhu (violino chinês de duas cordas) e a melodia ecoa como um acompanhamento da toada das águas.

Na Fuxing Lu, estão quase todas as encruzilhadas decisivas da cidade e da sua vida social, e é por ali que passam todas as paradas e folias das celebrações do Ano Novo chinês e da Festa da Primavera: os dragões, as danças, as bandeiras, grupos de música tradicional da minoria Bai e as tamboradas, com os seus ritmos percutidos em grandes tambores de pele, em desfiles que correm a rua de porta a porta, a do Norte, por onde se anunciavam as caravanas do Tibete e a do Sul, elo de ligação às outras províncias meridionais do império chinês.

Fala o mestre taoista

Do cimo da muralha avista-se bem o fio azul do lago Erhai, cingido por serranias cor de terra, panorama que ressoa vagamente a paisagem andina. Uma estrada em linha recta atravessa áreas de arrozais e termina na aldeia de Cáicun, à beira do Erhai. Para além dos pitorescos batéis de pesca ancorados num cais rodeado de juncos, há umas lanchas modernaças que levam os turistas às voltas pelo lago e até à ilha e ao templo de Putuó. Mas será, talvez, a atmosfera rural e a arte da pintura de paisagens nas paredes alvas das casas, certamente tão expressiva como nos áureos tempos da dinastia T’ang, já lá vão mais anos do que os de um milénio, que melhor justifica o zelo de uma curta jornada até às margens do lago.

Mesmo se lá para as bandas da região de Xinjiang, no coração da Ásia, persistam práticas de intolerância e instabilidade nos territórios dos Uigures, uma volta por Dàli dá conta da variedade de credos na China. Além da pequena igreja protestante da Fuxing Lu, num quarteirão popular, encontramos numa travessa da Renmin Lu uma bela catedral cristã, mestiçagem arquitectónica que cruza inspiração ocidental com elementos da arquitectura Bai. As três naves, em madeira, estão coloridas de azul claro e há figuras pintadas nas paredes e estrelas de prata a brilhar nos caixotões do tecto.

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