Fugas - Viagens

  • A China entrou em novo ano lunar no final de Janeiro
    A China entrou em novo ano lunar no final de Janeiro SHENG LI/REUTERS
  • A celebração da Festa da Primavera em Dàli
    A celebração da Festa da Primavera em Dàli
  • O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
    O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
  • O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
    O lago Erhai e os pagodes do templo Chóngshèng;
  • Fuxing Lu
    Fuxing Lu
  • A porta Norte de Dàli é um dos testemunhos arquitectónicos do Império Nhanzao
    A porta Norte de Dàli é um dos testemunhos arquitectónicos do Império Nhanzao
  • O povo Bai
    O povo Bai
  • O calendário chinês baseia-se no ciclo lunar e, por esse facto, a data do Ano Novo varia, fi xando- -se normalmente entre os dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro do calendário gregoriano
    O calendário chinês baseia-se no ciclo lunar e, por esse facto, a data do Ano Novo varia, fi xando- -se normalmente entre os dias 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro do calendário gregoriano

Continuação: página 3 de 6

China: Que mão pintou tão azul este céu?

À distância de uma caminhada de vinte minutos a partir da Porta do Norte, e já no sopé da Montanha Verde, fica o grande templo de Chóngshèng, um complexo religioso-cultural budista que se tornou o principal símbolo da Velha Dàli, com os seus três icónicos pagodes de estilo Bai. O pagode Quianxún, o mais alto, é um dos mais antigos da China (século IX) e um dos mais altos, com 70 metros de altura. Os outros dois pagodes, mais pequenos, foram edificados no século seguinte e formam, com o seu irmão mais velho, um dos poucos vestígios monumentais do reino Nanzhao.

Enquanto ex-líbris de Dàli e da cultura Bai, é um quebra-cabeças escolher a hora mais adequada para o visitar. Sem pretensão a ciência, talvez a melhor opção seja ir de manhã muito cedo, à hora da abertura, antes de começarem a chegar os autocarros para as visitas de grupo, um fenómeno que atinge dimensões inenarráveis durante a Festa da Primavera.

A meia centena de quilómetros de Xiàguan, na direcção sul, há uma outra visita interessante, entre as tantas que na vasta China nos lembram a sofisticação e os fulgores da mais antiga civilização do mundo, que começou a afirmar-se muito antes da nossa era e cujas realizações fazem empalidecer muitas das “invenções” europeias. Na Montanha Weibao (Weibao Shang), perto de Weishan, que foi o maior centro taoista do Sul chinês (o taoísmo é, aliás, uma expressão cultural meridional), podemos admirar alguns extraordinários murais executados por artistas taoistas, uma filosofia que antecipou em muitos séculos alguns aspectos do relativismo contemporâneo.

Num tempo em que a soberba de saberes absolutistas e impositivos reincide, e insiste em reproduzir-se, disfarçada, nos manuais escolares e através da parafernália omnipresente dos actuais meios de comunicação, vale a pena recordar a sábia humildade de Zhuang Zhu, que demonstrava, num breve diálogo, como o conhecimento contém em si mesmo o seu contrário. Zhuang Zhu caminhava certo dia pelas margens de um rio e comentou: “Como se divertem os peixes na água!” O amigo objectou: “Tu não és peixe, como sabes que eles se divertem?” Zhuang Zhu terá respondido, certamente mais interrogativo do que assertivo: Tu não és eu; como sabes que eu não sei que os peixes se divertem?”

Do que se conta dos Bai, que nestas partes da China vivem

Há várias etnias minoritárias na região, como os Yi e os Hui, de confissão islâmica, que deram na segunda metade do século XIX umas quantas dores de cabeça aos poderes centrais chineses por causa das minas de prata e ouro exploradas nos seus territórios. Mas são os Bai, entre todos os povos minoritários que nestas partes da China vivem, os que em maior número se contam, chegando ao milhão e meio de pessoas. Vestígios arqueológicos apontam para o facto de serem gente de muita antiguidade, supondo-se que se terão estabelecido na região há cerca de 3000 anos.

Politicamente, a época de ouro dos Bai coincidiu com a constituição do reino Nanzhao, que chegou a exercer soberania, no início do século IX, sobre uma boa parte do Yúnnán e territórios que fazem agora parte do Laos, da Birmânia e da Tailândia, resistindo com êxito aos movimentos de expansão do império chinês. Já no século X, uma ofensiva da dinastia T’ang levou à desagregação do reino Nanzhao, substituído a seguir pelo reino de Dàli, que durou até à chegada do exército mongol, em meados do século XIII. As consequências desta invasão foram também fatais para a China, que acabou por mergulhar numa fase de decadência, após o esplendor das dinastias T’ang e Sung.

--%>