Sucedem-se as paragens para arrefecimento. Dos ânimos e do radiador. A semelhança com um rali Dakar não é pura coincidência, com a agravante de não haver assistência em viagem ou carro de apoio. O objectivo intermédio é chegar a Zitundo, uma pequena aldeia a meia hora da Ponta de Ouro, mas não é fácil quando se tem de parar a cada cinco quilómetros para desenterrar as rodas ou “dar de beber” ao jipe. Em momentos de desespero, as sábias palavras de Fernando Costa voltam a ecoar - “Vale a pena o caminho.”
Finalmente lá
Há um carro que se aproxima em sentido contrário. O fumegante motor do jipe faz com que pare e ofereça ajuda. “Já estão perto”, tranquiliza o homem com perto de 60 anos que segue com a mulher para a capital. “Têm onde ficar na Ponta do Ouro?”, pergunta. É proprietário de uma pequena pousada na localidade e, pelo telefone, avisa os funcionários que vão chegar novos clientes. Ao mesmo tempo pede a um mecânico para ir à entrada da povoação esperar pelos tripulantes do jipe que está quase a dar as últimas.
Poucos quilómetros à frente, o perito está à beira da estrada, faz um primeiro diagnóstico pouco animador e indica o caminho até à Bouganvilla Sol Guest House. Ponta do Ouro é uma pequena vila de ruas não asfaltadas onde a oferta turística se destaca. Passaram cinco horas desde a travessia de barco, o dia está a chegar ao fim e é tempo de estacionar, tirar a bagagem do carro e tomar um merecido banho. Um último olhar para o jipe revela mais um revés – um furo. O pneu dianteiro do lado direito está furado. Há que escolher entre o macaco e uma cerveja gelada. Deixá-lo estar furado. Amanhã será outro dia.
Os bares e restaurantes começam a ficar com clientes a partir do momento em que o sol se põe. Os turistas são na sua grande maioria sul-africanos. A fronteira está a cerca de dez quilómetros, no norte da província de Kwazulu-Natal. Durban dista 460 quilómetros e Joanesburgo fica a 630. Os grelhados estão na ordem do dia, a cerveja é rainha da ementa e o vento que vem do mar obriga a um agasalho. O caminho de regresso à pousada é feito com a sensação de dever cumprido e o lamento por não se ter chegado a tempo de ver a praia com a luz do dia.
Tudo se resolve às primeiras horas da manhã e a surpresa não poderia ser melhor. A areia branca, o mar azul, a vegetação pelos montes, tudo se conjuga para um postal de férias como aqueles das capas de revista. São 18 quilómetros de areal virados para uma Reserva Marinha que procura o reconhecimento da UNESCO como Património da Humanidade. A proposta foi entregue em 2011 pelo governo moçambicano, com o apoio da Suazilândia e da África do Sul, mas a distinção ainda não saiu. A oficial, porque a oficiosa é dada por quem cá consegue chegar. Este já é um dos destinos de eleição dos sul-africanos em Moçambique e isso percebe-se pela quantidade de cartazes em inglês e pela enorme variedade de infra-estruturas de apoio, como hotéis, restaurantes, bares, lojas, escolas de mergulho – mais de 20 locais para imersão - ou centros de desportos náuticos. Não faltam as oportunidades de saídas em barco para pesca no alto mar, onde atuns e espadartes aguardam pelos aventureiros.