O recife de coral estende-se a outra praia digna de visita: Mamoli. Já com o pneu reparado, será esse o destino seguinte. A condição da estrada não melhora, e a do jipe muito menos. Os garrafões de água estão novamente cheios e os 18 quilómetros até à Ponta Mamoli são suficientes para os vazar. As moto-quatro são os veículos de eleição para estes terrenos sinuosos, arenosos e confusos. Cruzam a picada, entram na floresta com os seus ocupantes devidamente acondicionados por capacetes e fatos quase de competição.
A busca agora é pelo White Pearl Resort (www.whitepearlresorts.com/), um hotel referenciado como um dos mais luxuosos do país, oferta única na região. Na encosta sobre uma praia de dois quilómetros de extensão, 21 cabanas foram construídas viradas para o oceano Índico. Seis têm piscina privativa e acesso exclusivo a um areal que já foi votado como uma das dez melhores praias de África. A cada um destes chalets de luxo está atribuído um mordomo para resolver qualquer questão que possa ocorrer. E há um problema que precisa ser solucionado – o jipe. O eixo dianteiro deixou de funcionar e é necessária uma peça para o substituir. Nessa mesma noite, o mecânico do hotel é enviado à África do Sul para tratar do sucedido.
Agora há que aproveitar ao máximo um resort como há poucos no mundo. E há muito para fazer. Entre a praia e a piscina o tempo vai passando de forma tranquila. Os cocktails fazem esquecer as dores de costas da viagem, tal como o jantar gourmet no restaurante do White Pearl. Há uma ementa fixa, mas cada cliente pode escolher aquilo que quer comer no jantar da noite seguinte. Tudo é permitido, sem custos extras. Mimar o hóspede é a função dos diversos funcionários do hotel. E se alguém quiser um café e um pastel de nata a mais de oito mil quilómetros de Portugal, os desejos serão rapidamente concretizados.
No dia seguinte, um helicóptero aproxima-se do White Pearl Resort. É um serviço personalizado (a partir de 290 euros por pessoa, ida e volta) que leva - e traz - os clientes para Maputo. A viagem tem a duração de 45 minutos, sobrevoando uma paisagem protegida onde não faltam motivos para exclamações de espanto. Bem mais rápido que as quase seis horas de jipe. Entretanto, a peça que faltava foi feita de novo e a viatura está pronta para fazer o caminho de volta. A vontade de sair deste pequeno paraíso é proporcional à de entrar novamente no todo-o-terreno e enfrentar a poeira do caminho. Mas o que tem de ser, tem muita força. Cinco quilómetros depois, com o fim do dia a chegar, o jipe de Fernando Costa entrega os pontos. A junta da cabeça do motor está queimada e não há salvação à vista. O pôr do sol em África é coisa já descrita em centenas de livros e filmes.
À beira da estrada, sem transporte, com os mosquitos a iniciarem a sua actividade, percebe-se o impacto da imensa bola amarela na paisagem. A poucas centenas de metros um homem termina o dia de trabalho a cortar canas. Carrega-as para a palhota. Todos os dias faz o mesmo, no seu ritmo, indiferente ao que se passa no resto do mundo. É esse o sentimento que se impõe, o da relativização de todos os problemas. A boa vontade dos funcionários do hotel faz com que se volte a Zitundo, a reboque. A venda da aldeia é o ponto de encontro com a alma caridosa que Fernando envia para ir buscar os viajantes. O jipe, esse, fica por ali, à espera de um milagre.