Fugas - Viagens

  • Agostinho Gonçalves, 76 anos, da aldeia de Malhapão de Baixo, é um bom contador das histórias que fazem as paisagens agrestes da serra do Caramulo
    Agostinho Gonçalves, 76 anos, da aldeia de Malhapão de Baixo, é um bom contador das histórias que fazem as paisagens agrestes da serra do Caramulo Renato Cruz Santos
  • Caramulo
    Caramulo Renato Cruz Santos
  • Os antigos sanatórios são agora repositórios de memórias dos tempos em que o Caramulo era uma estância vanguardista
    Os antigos sanatórios são agora repositórios de memórias dos tempos em que o Caramulo era uma estância vanguardista Renato Cruz Santos
  • Renato Cruz Santos
  • Renato Cruz Santos
  • Museu do Caramulo
    Museu do Caramulo

Continuação: página 5 de 6

Caramulo, a montanha mágica

Se o ar do Caramulo lhe ditou o destino, a sua água anda nas bocas de Portugal. Tal como o ar, tem fama de pura e cristalina. A unidade de captação e engarrafamento fica muito perto da vila do Caramulo, mas ribeiros e riachos palpitantes alimentam toda a serra. Andam à solta com mais força, mercê das chuvas — na noite do Caramulo, o silêncio equivale ao troar ritmado da água. E não há sequer cascatas nas redondezas. Há é uma praia fluvial, São João do Monte, que nos verões temperados destas paragens é um chamariz. O Verão é, aliás, a época mágica: a beleza invernal é secundarizada perante o espectáculo da serra vestida de verde e iluminada de sol, não se cansam de nos dizer. Um verdadeiro território encantado. Carvalhos, pinheiros bravos, cedros, sobreiros, castanheiros, eucaliptos, medronheiros à mistura com penedias bravas e campos em socalco rasgam-se de trilhos para senderismo, oferecem-se para escalada, inventam-se em caminhos para BTT (tão famoso que deu origem a um verbo, “escaramular”) — disponibilizam até uma rampa (desactivada) para parapente. Porque se o Caramulo se inventou para o repouso, a adrenalina corre-lhe nas veias.

Hotel do Caramulo, refúgio na serra

Já teve hotéis, pensões — o edifício da antiga Estalagem do Caramulo ainda está identificado e apresenta-se em arquitectura mescla de alpina e modernista. Todavia, apenas um hotel resiste, o Hotel do Caramulo. A localização é irresistível, uma varanda (de muitas varandas) sobre o Vale de Besteiros com a serra da Estrela na mira, a história entronca-se no ADN da vila, tendo sido um sanatório: “de Salazar”, popularmente, Militar, oficial. Já não é o edifício original — excepto uma das fachadas —, contudo foi reconstruído à imagem do passado.

É um hotel de montanha e esse espírito vê-se no exterior, claro, e sente-se no interior. Recebem-nos dois salões geométricos, preenchidos de ilhas de sofás, quadros, estantes com livros, para terminarem numa lareira ao lado da televisão. Chegamos durante a semana e uma lareira acesa convida a abrigar-nos da borrasca — pudéramos nós. Há um certo ar britânico nestas salas, que se acentua no espaço do bar e do restaurante, onde novamente olhamos a paisagem, através de paredes envidraçadas para lá das quais vemos árvores em bailados loucos.

Se abordar a piscina arredondada lá fora — também ela num degrau da encosta a olhar o vale — está fora de questão, tal não significa falta de “água” no hotel. Afinal, aqui surgiu o primeiro spa do país, no mesmo ano em que hotel abriu, 1996. O Anima Corpus destaca-se assim pela dimensão de algumas das instalações, incomuns nos dias de hoje, e oferece uma variedade de massagens e tratamentos considerável. A falta de tempo levou-nos apenas a um rápido mergulho na piscina interior, dimensões muito generosas, mas ficámos de olho na piscina dinâmica (e na sauna, banho turco, hamman, duche escocês…).

Tempo tivemos para desfrutar do restaurante do hotel, uma (boa) surpresa, onde o chef João Pereira apresenta um menu ecléctico de cozinha portuguesa com um twist e resultados deliciosos. Em região de rica gastronomia, destaque para o programa Sabores Esquecidos, que recupera pratos tradicionais e torna-os verdadeiramente memoráveis.

--%>