A caminho das dunas do Erg-Chebbi
Há, para lá dos oásis de Akka e Tata, outras jornadas possíveis. Nem sempre a primeira experiência do deserto é reveladora, no sentido a que se referia Saint-Exupéry quando escreveu que o seu apelo ou a sua essência não estão ao alcance de uma paixão ocasional: "S’il n’est d’abord que vide et que silence, c’est qu’il ne s’offre point aux amants d’un jour". Mas para aqueles que se deixam tomar pelo sortilégio que se esconde sob esse "vazio" e esse "silêncio", o espírito acaba por reclamar contra a finitude da viagem. Para lá de Akka e de Tata, há outras jornadas: as pistas do Sul podem levar-nos até Merzouga e às grandes dunas do Erg-Chebbi, as maiores e mais impressivas que o Sara desenhou em território marroquino.
Para estas andanças, realizadas, a maior parte das vezes, através de planícies desérticas de cascalho miúdo e escuro (o deserto negro, a hammada), atravessando-se aqui e ali oueds (rios sazonais), requer-se logística e equipamento adequados: um todo-o-terreno - ou dois, para apoio mútuo -, sistema de navegação por satélite, reservas suplementares de água e de combustível. A contratação dos serviços de um guia experiente e conhecedor das pistas, que correm ao longo da fronteira com a Argélia, pode ser, também, uma boa ideia.
A primeira etapa leva-nos até ao oásis de Tissint, onde o rio desliza entre ravinas fundas ladeadas de palmeiras e terras cultivadas. A partir de Foum Zguid, onde termina o asfalto, uma pista segue para Zagora e outra para M’hamid. O oásis de Zagora, no fertilíssimo vale do rio Drâa, foi durante vários séculos ponto de passagem de caravanas que vinham do Mali. Agora, é uma etapa apropriada para quem quer seguir mais para leste, em direcção ao Erg-Chebbi, já que fica mais ou menos a meio do caminho para quem parte de Tata.
Antes de se voltar às pistas, vale a pena fazer um desvio de vinte quilómetros para sul, na direcção de M’hamid, até à aldeia de Tameghrout, um centro de peregrinação islâmica onde chegou a funcionar em tempos uma madrassa, uma escola corânica. A par da visita à aldeia, um labirinto de arquitectura de terra (aconselha-se o recurso a um guia local), pode-se visitar uma antiquíssima biblioteca islâmica, que inclui no seu acervo volumes datados do século XIII.
O trajecto seguinte é o mais longo e árduo, para cima de duas centenas de quilómetros até às dunas do Erg-Chebbi. Mas há nas redondezas de Merzouga outras maravilhas, como o grande oásis do Tafilalet, que conta com a mais extensa área de palmeiras do reino. Se a viagem se fizer depois do Verão, em Outubro, o tempo será o do início da colheita das tâmaras e de uma grande festividade em Erfoud.
INFORMAÇÕES
Como ir
Há, pelo menos, duas opções. A primeira é voar para Layounne, via Casablanca, e ali alugar uma viatura ou fazer todo o percurso desde Tarfaya até Tata por transportes públicos (autocarro e grand-taxi). A segunda, que pode ser menos prática, voar para Agadir, também via Casablanca, e seguir para sul, até Tarfaya. Há voos directos de Lisboa para Casablanca.