Fugas - Viagens

Continuação: página 2 de 3

Santa Luzia, a ilha deserta mas não solitária

Apesar de muitas das espécies da ilha serem migratórias, a calhandra do ilhéu Raso e a cagarra de Cabo Verde são espécies endémicas que nidificam apenas no arquipélago e que a Biosfera I pretende translocar para Santa Luzia brevemente. Por isso, é também necessário fazer a identificação de toda a flora da ilha para saber se Santa Luzia tem o potencial alimentar necessário para receber as aves e sem predadores directos; se esse não for o caso, recorrer-se-á a transplantações.

Juntamente com as tartarugas marinhas, ambas as espécies de aves estão em vias de extinção, maioritariamente devido à predação humana. Santa Luzia parecia ser um paraíso para aqueles que capturavam animais ilegalmente. Um local sem fiscalização e longe de todos os olhares. No entanto, através da sensibilização junto das populações e dos pescadores, os resultados estão a tornar-se cada vez mais positivos para a preservação das espécies, garante Tommy Melo.

Presentemente, os turistas não são bem-vindos na ilha. No entanto, Tommy Melo garante que, quando Santa Luzia estiver preparada para os receber, será um passo a dar. O ecoturismo parece ser uma solução. Permitir aos turistas que visitem a ilha, mas sem que isso a prejudique, um turismo que não seja para as massas, que não provoque destruição de habitats ou poluição, que seja sustentável e ecológico.

“É possível mostrar o que é belo sem se destruir”, garante o biólogo. “A Biosfera I não quer fazer ecoturismo. A Biosfera I quer ser o fiscal e moderador do ecoturismo na ilha. Não queremos que o governo coloque nenhum fiscal a controlar, queremos mesmo ser nós, pois temos a certeza de que vamos fazer um bom trabalho. Queremos ensinar a empresas locais como praticar o turismo na ilha de forma correcta.”

Deixamos agora a praia de Palmo Tostão. A maioria dos veleiros já partiu e alguns são visíveis na linha do horizonte. Os peixes-agulha e os peixes-voadores continuam curiosos. Para trás fica Santa Luzia, a ilha deserta.

 

Os homens do mar

Os pescadores de Santa Luzia consideram o mar como um membro da família e vivem nas pequenas barracas que construíram no Portinho. Passam ali cerca de cinco dias por semana, mas não são considerados habitantes. Escolheram esta forma de vida porque o peixe ali “é melhor”, asseguram.

Naturais da ilha vizinha, São Vicente, vão a casa apenas dois dias por semana. Garantem que preferem Santa Luzia, pois é ali que têm o seu trabalho, a sua vida, o seu sustento. Estão hoje na ilha cerca de 30, mas normalmente chegam a ser 100. Há pescadores de todas as idades e os veteranos garantem que levam este modo de vida desde a adolescência.

Movidos pela força de vontade e pelo amor à profissão, partem todos os dias por volta das seis horas da madrugada, quando o sol começa a espreitar. Há sempre quem fique em terra para o caso de ser necessário. Por volta das 15h voltam. A força empurra o barco para terra e o peixe é amanhado ali mesmo. Após ser lavado na água salgada, é conservado de forma artesanal em arcas geladas que conseguem preservar o peixe até ao período máximo de uma semana, para depois ser levado para São Vicente e ser vendido à população. Dizem que a pesca naquela zona “já teve melhores dias” e que as grandes embarcações europeias prejudicam o negócio local.

--%>