Fugas - Viagens

  • ISHARA S.KODIKARA/AFP
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  • Ricardo Santos
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Sri Lanka, danças com elefantes

"Querem um pequeno-almoço típico do Sri Lanka?", pergunta. Não há grandes dúvidas quanto a isso. O arroz branco chega à mesa, seguido pelo caril de lentilhas, ovos estrelados e pequenas panquecas, as appam, recheadas com vegetais bem condimentados. Também há massa de arroz com vegetais, molhos adocicados, picantes e mão na comida — só a direita — em vez de talheres. O copo fica na esquerda por uma questão de rito social. No seu interior há quase sempre chá, o muito elogiado chá da ilha, cultivado nas montanhas do país, imagem de marca de uma nação.

Arroz sempre

É de fusão a gastronomia do Sri Lanka, uma mistura entre os pratos da Índia, do Vietname ou da Tailândia. Daí a importância do arroz, servido em quase todas as refeições. É num restaurante de beira de estrada que este pequeno-almoço é servido. Aos poucos vai-se percebendo onde se está. Ao lado fica a casa que servirá de albergue para os próximos dias. É uma moradia térrea com alpendre, meia dúzia de quartos, sala de refeições e cozinha. A água para os duches não é quente, mas esse é um problema que não se coloca, tal a temperatura elevada que quase sempre se faz sentir. No exterior, no alpendre, quatro espreguiçadeiras convidam ao descanso. E há uma máquina de levantamento de pesos que pode ser utilizada por quem quiser manter a forma física. É o mais próximo de um ginásio que se encontra nas redondezas. Os empregados da casa revezam-se na sua utilização, procurando sempre fazer melhor que o utilizador anterior. Os homens são iguais em toda a parte do mundo e a competição acaba quase sempre com uma boa dose de gargalhadas.

Os quartos são simples e funcionais, a ventoinha está quase sempre ligada e a rede mosquiteira aberta. Os cortinados não cortam a entrada de luz, mas os dias começam tão cedo que essa questão nem se chega a colocar. Com a diferença horária e o ritmo de vida, acordar depois das seis da manhã é quase um luxo.

Do outro lado da via está o Orfanato de Elefantes de Pinnawala. Dificilmente a localização poderia ser melhor para quem se voluntariou para trabalhar com elefantes orfãos. Ainda não são nove da manhã, o calor aperta e o dia já vai longo. Mas o trabalho ainda nem começou.

Chari conduz agora o seu tuk tuk vermelho em direcção ao local onde pernoitam os elefantes. Fala da guerra civil que afectou o país entre 1983 e 2009 — que terá vitimado pelo menos cem mil pessoas — e da qual se sentem ainda as marcas na sociedade. O facto de existirem dois idiomas oficiais — cingalês e tamil — é disso exemplo, mas também a divisão entre o norte do Sri Lanka e o restante país vem à conversa.

Pinnawala localiza-se praticamente no centro, a meio caminho entre Colombo e a cidade sagrada de Kandy onde se encontra guardado aquilo que se crê ser o dente de Buda. Kegalla é a maior cidade das proximidades, o destino principal dos autocarros que aqui chegam. Daí é tomar a direcção de Rambukkana e não há que enganar. O triciclo a motor imobiliza-se poucos metros depois da entrada numa picada. Chari olha para trás e explica que existem cerca de 600 elefantes em todo o país. Antes da guerra civil eram aos milhares. São dez da manhã e o calor e a humidade não ajudam ao que se segue.

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