Fugas - Viagens

  • Renato Cruz Santos
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Aqui há pastores. E artistas. E gente que quis voltar à aldeia

Tenho de voltar no Outono. Não para subir o Douro de barco ou andar a cavalo pelo vale do Bestança. Para apanhar o tempo.

Quatro casas na encosta da serra

Maria Dolores está inquieta. Vê-se que Maria Dolores está inquieta. Quer que tudo esteja perfeito — perfeito. A Casa do Moleiro — que não é uma casa mas um conjunto de casas, rústicas, de granito e madeira — é o projecto de uma vida desta professora de físico-química reformada.

Nasceu no seio de uma abastada família de Cinfães. Estas eram as casas dos caseiros. Quis aproveitar todas as paredes de granito. Onde acabava a pedra, há agora ampliações revestidas a madeira, sinal de respeito pela traça original. Há a Casa do Ferrador, com três quartos, a Casa da Levada, com um quarto, a Casa da Mó, também com um quarto, a Casa da Adeleira, com dois quartos. Ela conhece a história de quem aqui viveu. Pode contar-lha, se lho pedir.

Tudo começa com Blandina Doceira, que fazia doces de Teixeira, bolinhos de manteiga, rosquilhos e outras lambarices em épocas festivas, como arroz doce e aletria. Depois dela, morou aqui José Funileiro, que, claro, fazia funis em folha-de-flandres, mas também remendava panelas e canecas. Da união do funileiro com dona Alzira nasceu o Manuel Moleiro.

Manuel Moleiro percorria a terra com o seu fiel burro. Saía com o bicho carregado com as taleigas da farinha para entregar aos clientes. Voltava com o bicho carregado com as sacas de milho para moer. Casou-se com dona Laura, que ainda aqui vivia quando Maria Dolores herdou estas casas. A senhora ainda viveu uns bons anos. E uma destas casas ainda saiu das mãos de Maria Dolores, mas essa é uma história longa que terá de ficar para o pequeno-almoço.

Estamos a meia encosta da serra de Montemuro. Há vista para o vale do rio Bestança, para a albufeira do Carrapatelo, para o rio Douro. Maria Dolores quer mostrar a piscina, os jardins, o forno de lenha tradicional e "barbecue", a casinha de bonecas (com biblioteca infantil, jogos, brinquedos), a pequena sala de jogos e as casas, claro. Cada detalhe, aqui, tem o seu dedo. Ela é que fez os arranjos, os cortinados, as colchas.

Os hóspedes ficam independentes nas suas casas, a menos que estejam na casa principal, onde Maria Dolores e o marido ficam, quando aqui estão. Ela tem as dicas todas para fazer os hóspedes entrarem na vida da aldeia de Pelisqueira. Um exemplo? Todos os dias, por volta das 8h, menos ao domingo, passa o padeiro de Alhães com pão de centeio e pão de mistura; por volta das 10h, passa o de Cinfães; ao domingo, só o de Cinfães, com pão de centeio e broa de milho, mas às 12h.

 

Um palacete no bosque encantado

Sabe aquela malta que se farta da vida na cidade e resolve mudar-se para o campo? Lurdes Durão e Vicente Lucas fizeram isso.

Viviam em Lisboa, onde ele nascera e ela morava havia anos. Viraram-se para Norte, de onde ela saíra para estudar. Começaram pelo Parque Nacional Peneda-Gerês. Andaram um ano à procura do lugar ideal para recomeçar. De repente, Vicente anunciou a Lurdes que encontrara "um bosque encantado".

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