Fugas - Viagens

  • Antibes, praia
    Antibes, praia Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice
    Nice Renato Cruz Santos
  • Nice, Museu de Arte Moderna
    Nice, Museu de Arte Moderna Renato Cruz Santos
  • Cannes
    Cannes Renato Cruz Santos
  • Cannes
    Cannes Renato Cruz Santos
  • Estúdio Picasso em Vallauris
    Estúdio Picasso em Vallauris Renato Cruz Santos
  • Fundação Maeght, Saint-Paul de Vence
    Fundação Maeght, Saint-Paul de Vence Renato Cruz Santos
  • Galeria de arte, Saint-Paul de Vence
    Galeria de arte, Saint-Paul de Vence Renato Cruz Santos

Continuação: página 3 de 5

Côte d’Azur: Quem pintou esta paisagem?

 

Vallauris, Juan les Pins, o nosso guia chama-se Picasso

Começamos aqui — como podemos começar por ali, porque o rasto de Picasso, da tinta, dos pedaços de madeira retorcida, da argila húmida também está ali, sente-se, é omnipresente. Começamos em 2014, pelo fim, por Vallauris. No cimo desta pequena avenida (Vallauris tem mais do que esta “avenida”?) fica o Museu Nacional Picasso, um achado. Uns metros abaixo está escondida a Galeria Madoura, uma cápsula do tempo. Aqui, a meio da avenida é fácil não darmos pelas portas da antiga barbearia, de fachada verde e preta, a barbearia onde Picasso costumava ver-se ao espelho.

Esta história só não aconteceu em Espanha por culpa de Franco. Homem de poucos estudos, Eugenio Arias aprendeu a arte do tio, barbeiro. O pai era alfaiate, a mãe guardava ovelhas e ele começou a trabalhar aos onze anos na barbearia, onde se encaixavam uma pequena biblioteca e várias discussões sobre teatro e as artes em geral. Eugenio teve vários clientes camaradas e juntou-se à Resistência, onde conheceu Picasso. Em 1948, depois da guerra, estabeleceu-se em Vallauris, onde Picasso tinha uma das suas casas.

Arias descrevia o artista como o seu segundo pai. E o seu “segundo pai” ofereceu ao filho adoptivo um automóvel para ter a certeza de que ele nunca falharia um compromisso (e um corte de cabelo, que nunca foi basto). Pablo Picasso foi o seu padrinho de casamento e preferiu sempre expor os seus quadros e esculturas na sua barbearia do que vendê-los a coleccionadores alemães ou japoneses. E quando Franco morreu, em 1975, Arias regressou a Buitrago, localidade espanhola que ainda hoje alberga outro Museu Picasso.

Este ficou aqui, a meio desta pequena avenida, em Vallauris. O espaço da barbearia tem duas áreas. Uma, fechada, à espera de melhores dias, acumula objectos, cadeiras, espelhos e memórias. A outra foi alugada há cerca de um ano pela artista brasileira Irene Hamilton, há dez anos em França e há um nesta cidade de artistas e de cerâmica — porta sim, porta sim. “Pierre, filho de Eugenio, queria alugar, mas não queria tirar nada”, disse à Fugas. “Insisti porque vi que este era um bom sítio para pintar”.

A melhor maneira de descobrir esta região, com uma forte tradição na cerâmica, é mesmo na companhia de Picasso, o seu mais famoso embaixador — e fazer de conta que algures durante a visita o encontraremos com o pé numa roda de oleiro. A popularidade das suas peças levou a Vallauris visitantes famosos e uma série de artistas. Ainda hoje artesãos e artistas confundem-se na pitoresca avenida Georges Clemenceau, onde convivem lojas, ateliers e galerias de arte (e os restos mortais de uma barbearia).

Picasso é omnipresente. No Museu Nacional (especialmente por causa de “Guerra e Paz”, o seu incrível trabalho que reveste o interior ogival da capela românica), na praça com a estátua de bronze de um homem com um carneiro ao colo (uma das poucas estátuas do pintor numa praça pública, junto à igreja onde casou com Jacqueline Roque; e onde Rita Hayworth casou com o príncipe Aly S. Khan) e na galeria Madoura, onde ainda hoje Picasso parece estar vivo e com as mãos sujas.

Em 1946, Picasso visitou uma exposição de cerâmica em Vallauris e foi convidado por Suzanne e Georges Ramié, donos da marca Madoura, a fazer três peças. Picasso concordou, deixou as peças a cozer e voltou um ano depois, tendo-se apaixonado pela qualidade dos acabamentos. O artista pediu para fazer mais e foi ficando — produziu 633 peças em edições limitadas de 25 a 500 exemplares e com o selo Madoura. Hoje, aos poucos, a galeria revela algumas peças e um capítulo da história de Picasso, cujo espaço de trabalho foi conservado até ao mais pequeno pormenor — até à mais pequena ferramenta.

Podemos começar por aqui. Ou podemos começar em Antibes Juan-les-Pins (a poucos minutos de Vallauris), no coração da Riviera francesa, entre Nices e Cannes. Dizem que num dia de vento mistral pode avistar-se Córsega. Talvez essa tenha sido a fonte de inspiração de tantos escritores e artistas plásticos. Para descobrir Antibes Juan-les-Pins basta olhar à volta, apontar para o Castelo Grimaldi e serpentear através de uma cidade que durante séculos desempenhou um papel importante como ponto estratégico comercial e militar. Por isso, sofreu na pele sucessivas guerras, invasões, epidemias e renovações. Foi reconstruída com as mesmas pedras sobre pedras, empilhadas uma e outra (e outra) vez sem sentido estético — pedras com nomes romanos que às tantas foram encaixadas no puzzle de pernas para o ar para afastar o mau olhado. Desafio para turista: uma dessas pedras invertidas está numa torre e tem inscrito o nome original da cidade (Antípolis, a cidade do outro lado).

Do lado de cá, é obrigatório chegar ao Castelo Grimaldi, que em 1926 foi comprado (e resgatado) pelo município e que em 1946 foi a casa de Picasso. Durante seis meses, o espanhol pintou, desenhou e esculpiu e teceu. “Se quer ver a fase Antibes de Picasso tem de a ver em Antibes”, diz-se por aqui. Pode dizer-se que a fase Antibes de Picasso começou no velho cais. Sem telas suficientes, Picasso regressava ao castelo com pedaços de madeira de barcos e outros materiais (até quadros com outras assinaturas ou as paredes do castelo, que abandonou devido à humidade) que usava como suporte para as suas façanhas. Muitas peças ficaram naquele que hoje é um dos museus Picasso (no terraço convivem esculturas de Germaine Richier, Joan Miró, Bernard Pagès, Anne e Patrick Poirer), o primeiro em todo o mundo dedicado ao artista.

O turismo local oferece o mapa “a Riviera dos pintores” onde estão assinalados os locais onde artistas como Pablo Picasso, Eugène Boudin e Claude Monet tinham instalados os seus cavaletes quando pintaram.

--%>